domingo, 30 de outubro de 2011

elocubrações


Sentimentos de papel
O tempo ensina, palavra do todo. Frase da razão.
O tempo ensina que o melhor é transformar em papel todos os sentimentos.
Desse jeito  alcança mais gente, se difunde pelo mundo e não  mundo, navega na internet.
Atinge a quem quer e quem não quer. Não vive encapsulado, mas se esparrama feito câncer quando sai da membrana  celular e busca na noite outras células para inocular.    
Sentimentos de papel viram de teoria, alertam, esclarecem, refletem, contaminam.
Obscuro desejo de todos, que poucos realizam.     



Mosaico de palavras
Não busco mais um único sentido. Me acostumei a ver múltiplos sentidos em tudo, ou não ver nada além do que o básico que se permite ver. Vivemos  o hoje  com essa famigerada vontade de ter que dar uma função para tudo. Não vivemos simplesmente contemplando o dia, a vida e a noite. Mas  ficamos numa masturbação  exagerada de nossa  mente em busca de alguma coisa, que  não vai fazer diferença para grande maioria dos mortais.
Sinto em mim mais a presença dele e de suas ideias do que eu queria sentir. Na verdade não é que eu sinta  ou veja nas minhas ideias as dele, não é isso, eu sinto em mim a interpretação das ideias dele. Como se eu  escutasse sem escutar o que ele falava e daí fizesse as minhas ideias das leituras que fiz das ideias dele. De repentea ideia dele verdadeira nada tem a ver com a minha . O que é mais provável.
Li Foucault falando da escrita de si mesmo, e  dessa escrita que só agora me fiz  conhecer, ele fala das cartas. Do  efeito da carta sobre quem lê. E que a carta para quem    é como a presença daquele que a escreve. Será mesmo assim?  Rememoro  todos os meus escritos e o quanto de minha  vida gastei,usei, escrevendo cartas para qualquer um que estivesse presente no meu momento.
Aprendi isso não sei quando, pensava que tivesse sido com Rahel, a personagem de Hannah Arent mas não foi. Foi antes disso que me dediquei a escrever cartas para mim mesmo.  Escrevia buscando sempre  elaborar o que me acontecia. Mas não elaborava, porque não relia as cartas. Escrevia para mim, e não me mandava as cartas, não me endereçava. Logo não tinha o prazer ou a dor de me ler. Então não  sabia o que eu tinha escrito para mim, e escrevia de novo a mesma carta. Fiz isso 999 vezes. Muitas vezes.  Guardei tudo, pois  não sou do tipo que joga o passado, nem o presente no lixo. Guardo  tudo,  só para que um dia  depois que eu  morrer alguém tenha o trabalho de fazer uma grande fogueira com todos esses papeizinhos  multiformes de mim.       
Todavia  pode ser que eu também tenha sorte, ou azar, de  alguém  preparado querer  fazer  mosaicos de  palavras   com trechos de mim. Seria uma coisa meio disforme, desconexa, translouca  no sentido mais que na forma.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Paris é uma festa

30\6\2011

Paris é uma festa, diz Ernest Hemingway. Festa para quem? Para qualquer mortal que passe pela cidade luz, uma cidade que desde o século XIX, se tornou como um janela para o mundo, cidade que é exemplo para outras cidades. Foi copiada, foi inspiradora, foi vista como modelo de modernidade. Cantada não só por Baudelaire  mas por tantos outros. Wood Alen é o mais recente que com seu  novo filme “ Meia  noite em Paris” traz de novo a capital dos franceses, que não  é só dos franceses, mas de todos que querem ser sofisticados. Uma  sensação de sofisticação paira na  cidade , que se tornou o lugar querido de escritores, artistas, pintores. A Paris da belle epóque, a Paris da vanguarda    artística da década de vinte, a cidade que abrigava além de Hemingway,  Bunuel, Dali, Picasso, Gertrude Stein, Eliot, Matisse,   e tantos outros que aparecem no filme de Alen, franceses ou não.
Mas acima de tudo  a Paris de Baudelaire, de Rimbaud,  de Mallarmé, de Degas, de Monet.
Aquela mesma de Monmartre, da Sacre Coeur, da Eifel, da Concorde, do Dorsay, de Champs Elisier, do Louvre, de Madelaine,  da  Galeria Lafayete, do Pere Lachaise, da praça de voges, da rua, do beco, das delicatessen, dos aromas, cheiros de perfumes, dos cafés na rua, do metro.
Tudo é  interessante, andar, flanar baudelairianamente pelos boulevares de Hausmann, e subir no alto da Torre de Eifel,  flanar no frio, no calor, a qualquer hora do dia e da noite. Se extasiar só por caminhar na rua, sem destinos, sem hora , sem nada.
Essa era a sensação,  a maior de toda a liberdade, literalmente, sem lenço e sem documento.
É preciso sentir a cidade, seu som, seu aroma, seu clima, seu ambiente, seu tempo.
 Todos deveriam pelo menos uma vez na vida ir a Paris. Não que seja melhor, mas é Paris, é diferente, é chique, é bom.    
O filme, ah! O filme, um tempo dentro do outro, um escritor americano, que quer estar naquela atmosfera  para criar. Que descobre num insight que sempre  tendemos a não presentificar,  achar que o tempo passado foi melhor que o nosso atual e  que o futuro pode ainda ser melhor.
Creio que a vida é sempre esperança, talvez de mudar o futuro e também o passado. Mas não se  muda o passado, diriam alguns, mudamos sim, mudamos todo tempo, pois a todo momento quando o relemos, quando o interpretamos de forma diferente estamos mudando o passado. Podemos não mudar os fatos, mas mudamos o entendimento que temos dele. E isso nos faz vivos. Isso nos possibilita seguir adiante. Seria isso o eterno retorno, que  alguém  já disse. Niestzche talvez.  Fato é que, voltamos  mas não lemos igual e não somos igual, por isso sempre tudo será diferente.
Cada vez que me leio, me leio de maneira diversa da que li da primeira vez.
Aquele que não possibilita a si mesmo se reler, é aquele que  está cristalizado, não apenas no seu tempo, ou no futuro, mas que está cristalizado no seu próprio conhecimento.          

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CAMINHOS

6/7/2001

Olhava incessantemente para a parede verde meio esmaecido, havia ali um desenho meio disforme de alguma coisa que não sabia ao certo que era. Era sempre assim toda vez que se sentava naquele lugar. Enquanto não pintavam aquela parede ela se descobria olhando aquilo que desde criança a intrigava.
Era uma vontade de fazer concreta aquela imagem que pensara ver. Imagem que não tinha forma para qualquer um que a visse, mas que tinha forma para ela, com todas as suas ambições e desassossegos, todo o seu estranhamento de mulher.
Que imagem era aquela?O que pretendia? Ou que fuga empreendera buscando no verde pálido de uma parede velha seu lugar.
Todavia, parecia para ela que aquela imagem era a que a descansava, a restituía a algo muito interior.Algo aparentemente sem formas, com o poder de ter milhões de formas. Cada dia que se sentava diante daquela parede o universo desconexo em múltiplas dimensões se reestruturava e era criado novamente. Nesse momento em que o verbo se fazia, que as possíveis formas iam saindo do caos e entrando na órbita de satélites que descobrem seu eixo, ela se sentia plena, preenchida, verbos, sensações diferenciadas, tatos, caminhos descobertos, imagens invisíveis que se formavam no interior de sua mente, labirintos que se desfaziam.
Lembrava-se de uma certa ponte e um certo caminho de um quadro, outrora na infância, visto na casa de sua tia. A sensação era a mesma. Quando após o banho, aguardando o jantar, depois de dia intenso de brincadeiras, se sentava sozinha naquela sala de paredes altas e brancas. A televisão desligada.E o que se via era o quadro pendurado na parede sobre o objeto eletrônico, como se somente com o aparelho desligado fosse possível olhar o quadro.
Ali sentada diante da pintura ela podia entrar no seu caminho, atravessar a sua ponte e vagar por mundos desconhecidos, por cores diferentes, por espaços outros. Era essa sensação que experimentava agora diante da parede. Entretanto, não tinha nem mesmo a ponte, nem o caminho. Esses teriam que ser criados por ela que já então sabia como fazê-lo. Não era mais a criança, aprendera a manipular o verbo. Tinha possibilidade de com ele fazer o que quisesse. Tudo a partir do verbo poderia se dar. Tudo, tudo mesmo. Qualquer construção. Qualquer canteiro imaginário, qualquer beijo, qualquer ser que fosse, só era possível a partir de.
Porém o medo estava sempre presente. Mesmo que não confesso ele percorria os espaços e a vida . Estava atrelado a uma organização poderosa que só tinha por fim essa mesma disseminação do medo.
Todos tinham medo, medo de perder, de ganhar, de não saber, de ser colocado em contradição.Indivíduos se corroíam para perder seus medos e enfim poder seguir, por espaços e imagens simbólicas ou não, o seu caminho. E ela não era diferente.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Saco vazio

Rio 20/6/2011

Cada dia uma linha que fosse, uma frase, uma voz , um fonema apenas. Simplesmente ouvir algo de dentro e transferir para o papel o que quer que fosse. Disciplina , empenho, comoção, conexão.
Como dá para ser escritor assim, sem dilemas existenciais, sem questões para resolver, sem teorias para defender, sem dor por mim, sem necessidade de alguém. A análise corrói, tira a potência, ela é a culpada por eu não conseguir mais expressão. Tudo que expresso é em vão, é simples, farei da existência a simplicidade da gota caindo do céu e batendo na planta. Tudo é banal frente aos olhos da pessoa analisada.
O mundo perdeu a complexidade. Os analistas acabaram com o mundo, acabaram com os problemas que geravam boa literatura.Eles acabaram com os personagens redondos ou quadrados, com os pronomes indefinidos, com os sujeitos indeterminados. Nietzsche culpou Deus, Freud culpou os pais, mas hoje, a quem vamos culpar??? Falta um culpado para a nossa pós-modernidade, é a hora de nos convencermos de que somos nós mesmos os culpados. Mas quem quer ser culpado de alguma coisa. Isso implica em pena, punição e não queremos ter trabalho, ter ansiedade, ter tensão. Vivemos a busca do mundo sem tensão, sem intenção, sem querer criar expectativas, em qualquer lugar. Tudo claro, simples, resolvido, higienizado, limpo, tão limpo, que parece que passou uma borracha voadora cortando as letras e os pensamentos que flutuavam. Drogas inúmeras: chinesas, bolivianas, americanas, paraguaias, qualquer uma, para acordar, para dormir, para trabalhar, para trepar, para tudo tem droga. Doenças para todos os tipos de diagnósticos, não temos mais médicos, temos analistas de imagens e de sentimentos e de sensações. E o saco cada vez mais vazio.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

AZUL

Revendo o início

Azul

Acordara sozinha com raios de luz que penetravam pela janela,refletindo o azul da cortinas, estava calor e o sol forte anunciava que já era tarde, do lado da cama, no criado mudo,um pequeno pedaço de papel mostrava um bilhete.
Ficou pensando sem se mover, não se lembrava daquele papel, pensou no dia por vir e logo veio a mente uma sensação estranha.
Jamais procedera daquela forma, deixar que seu corpo a levasse sem medir as conseqüências, não sabia quem era aquele homem, nunca o tinha visto até aquele dia num simpósio onde ele era o palestrante, porém isso não importava, sentia-se atraída pela sua fala mansa, pelos seus gestos precisos, pelo seu corpo, do qual se via apenas parte do braço descoberto pela manga da camisa dobrada, disfarçando a fina penugem castanha que cobria sua pele clara, não chegando com ela a contrastar,suas mãos eram como um suave prolongamento de seus braços que conduziam sua fala num gesticular envolvente. Seus movimentos irradiavam pura energia e o brilho de seus olhos misturavam calor e sedução junto do desassossego de suas pernas ao andar pela sala enquanto falava, não fixava o olhar que parecia procurar algo além das palavras que ouvia saírem de sua própria boca.
Tudo começou quando pensara em ir cumprimenta-lo após a palestra. Era tímida e isso fazia-lhe insegura, bloqueava suas ações mas não o seu desejo. Ao olhar aquele homem sentia-se arder, sua boca tornava-se seca e seu rosto quente, tentava caminhar e seus pés não se moviam, estava atordoada, tinha medo que todos a olhassem, que falassem dela, que percebessem sua aflição e isso a incomodava, olhava incessantemente para os lados dissimulando as atitudes. Correria esse risco? Temeu não ser notada, ser mais uma entre as dezenas de homens e mulheres que dele se aproximavam .
E se ele a desprezasse? Estaria preparada? Sua educação tinha sido repressora, em casa, escutava a mãe a dizer-lhe que não deveria expor seus sentimentos, nem se submeter as paixões, mas não se tratava disso, não eram seus sentimentos que estavam em jogo, já poderia se permitir viver aquela situação, porém , e se não valesse a pena?Se sentiria fácil,volúvel e teria que carrear essa culpa, esse peso em sua consciência, que nem o tempo poderia apagar. Entretanto, no íntimo, já havia decidido, se arriscaria, pelo menos dessa vez.
Foi, ele terminara a palestra e guardava suas coisas, quase todos já o tinham cumprimentado, ela cumprimentou-o e depois de convida-lo, saíram para um café que ficava a poucos metros da sala de conferência. Lá, o burburinho de vozes não deixava que um ouvisse o outro, melhor assim, ela estava nervosa, não sabia o que dizer, nem o que fazer, só sabia que estava agindo impulsivamente e nuca fizera aquilo antes. Sua voz que era suave estava trêmula, procurava não demonstrar sua ansiedade. Pediu um chocolate com whisque, nunca bebera, mas sabia que o álcool a relaxaria e daria segurança que precisava para ir adiante. Tomou o chocolate e o calor em sua boca já a fez sentir-se mais leve e estimulada. Sugeriu então um outro local. O homem olhou-a surpreso e ela corou, sentiu-se atrevida e a dúvida novamente se fez presente, pensava no que poderia acontecer, sabia que nem todas as pessoas entenderiam, quem a apoiaria? Oscilou entre retirar a proposta ou confirma- la, seus pensamentos se confundiam,sentia no sangue sem suas veias um imenso calor. Teve vontade de se desnudar por inteiro, sem medos ou vergonha, vontade de dançar suavemente embalada pela canção que soava em sua mente excitada. Queria seduzir aquele homem por completo , fazendo com que ele lhe desse todo prazer que nunca sentira, continuou.
Saíram do bar, ganharam a rua, na noite quente e estrelada soprava uma brisa calma que vinha do mar e arrepiava todos os corpos numa mistura de frio e prazer, ela levou-o ao seu apartamento, mesmo lugar onde agora ela se encontrava pensando no que fora sua noite, no quanto havia sido afoita, e no grande prazer que sentira.
Sentou-se na cama e olhou no espelho que ficava em frente, pelo reflexo viu o bilhete de poucas linhas que estava ao lado, receou em pegá-lo. O que teria escrito? Não sabia como tinha se deixado levar. Lembrou então que seu desejo era incontrolável e que havia se abandonado a ele. Olhou outra vez para o espelho e agora fitou sua própria imagem nele refletida, não era feia, e a sensualidade transbordava de seu corpo de forma muito natural tornando-a bastante atraente, gostava disso,mas, nesse momento o que importava era o bilhete,não possuía coragem para ler o que estava escrito, talvez por medo.
Encheu-se de firmeza e tomou então o bilhete em uma das mãos, levou-o aos olhos e leu. Era um lembrete que ela mesma havia feito para não se esquecer da palestra que aconteceria naquele dia à noite.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Início do romance- ainda sem nome

A beira do túmulo recém aberto o homem parou. Seu olhar fitava algum lugar. Talvez tivesse mergulhado num passado longuínquo, quando a ainda criança vira surgir uma criatura tão misteriosa e mesmo esquisita.( ...)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

2º Tango


_ Não chega a me causar problemas.

Respondi meio sem pensar sobre a interrogação feita.

Passara já 2 anos, nenhuma conversa, nenhum dia deixara de ver a minha frente a imagem do homem branco, cabelos grisalhos, olhos levemente puxados e a cicatriz no ombro esquerdo, ou seria direito?

Lembrava sempre, ele se parecia com Richard Gere. Por isso, toda vez que olhava o ator holywoodiano na TV ,ou cinema, lembrava-me que quando transava com ele pensava em Gere, e a transa ficava ainda melhor. Ele sabia disso mais não ligava, sentia-se até mais envaidecido. Ele se olhava no espelho e pensava que poderia ser o ator, eu já tinha falado isso para ele, ainda mais quando uma vez fez um corte sinistro no cabelo.Cortou tanto, que ficou aparecendo a coroinha do alto da cabeça. Eu falei, o filho falou, e a desculpa foi que iria menos ao cabeleireiro. Eu disse: _ Perdeu a imagem do Gere, meu tesão vai ficar prejudicado. Como, com esse cabelo, eu vou achar que estou transando com o ator? Ele riu e ficou sério ao mesmo tempo. Mas eu sabia, que no seu riso tinha um entendimento da questão.

Era sempre assim, por mais que dissesse, que o que eu falava não importava, sempre as atitudes posteriores diziam coisas diferentes.

Eu falava muito, falava pela estranheza que sentia e falava porque tinha que falar. Não falava diretamente, mas por metáforas, quem fala diretamente?

sábado, 2 de abril de 2011

Série: Coisas de mulherzinha

Coisas de mulherzinha

Todas queremos ser mulherzinhas, indistintamente.

Fazer o que dá na telha, comprar o que é mais fútil. Ter enorme preocupação com a unha e com a depilação. Pensar o dia inteiro no homem da vez, quando ele está mesmo na vez. Muitos dizem que não é isso coisa de mulher interessante, é de mulher fútil que não tem o que fazer. Tudo uma grande mentira, para minar a coisa mínima de que é feita a vida.

As grandes preocupações só sobrevivem se as mínimas estiverem no lugar. Sem essas pequenas as grandes não existem. Por isso essa série vai falar disso, das pequenas coisitas básicas do nosso dia-a-dia, que fazem também literariamente a vida ser o que é.

A incontinência

A perturbação da incontinência verbal que leva a virtual começa de novo a me contaminar. É como um vírus: contamina, fica inoculado, depois de um tempo começam a aparecer os sintomas. Sinto feliz de ter voltado. Não causa dor, mas angústia boa. Dois tipos de angustia existem. Aquela que identifico como a melhor, que escarafuncha a psique em busca de matéria para remover,  seja de que forma for; e aquela que paralisa que não renova, que não remove nada, mas só faz ficar na prostração.
Todo mundo deve ser assim. Na verdade, todo mundo é igual, só muda mesmo a maneira de olhar as coisas. Todo mundo cada vez mais parecido .  Eu igual a qualquer uma mulherzinha que se dá ao trabalho intermitente de pensar, de se pensar. Eu e qualquer mulherzinha verdadeira ou falsa. Loura ou morena de verdade ou de farmácia. Tanto faz, tanto faz... no fim é tudo mesmo igual. Os bichos que nos comerão serão sempre os mesmos. Mortas ou vivas, tanto faz.       

Crificção

s vezes br
 Às vezes brotam milhões de ideias  que evaporam como um gás volátil  em uma noite de sono. Talvez  na hora em que elas viessem naquele momento da noite escura eu devesse me levantar e dizer: _ então vem, vamos lá, vamos ver se você se sustenta nesse universo de torpor de uma semana de trabalho intenso. Elas não se sustentariam, morreriam de medo e não quereriam mais ver o que estava acontecendo. Ou lutariam bravamente contra aquele estado letárgico em  que me ponho vez por outra.
Falei para Ele que  me sentia melhor, que meus descalabros tinham me dado força para ir adiante. Todavia, depois que disse  isso, achei que era tudo mentira, falsidade que se diz ao terapeuta esperando que ele diga algo. Como quando o aluno adolescente pergunta o que já sabe, só para testar àquele que ministra a aula.
Ma s Ele não respondeu. Eu sei que uso meu descalabro como matéria bruta e fina para meu processo de criação, de vida.
Vida, criação, ficção, tudo dá na mesma. Se a vida somos nós quem  fazemos, quem construímos, logo é igual  a nossa ficção. Fazemos da vida a  ficção que queremos que ela seja.  Ora mais verossímil, ora menos. A parte menos é sempre a melhor.
Qualquer coisa que seja muito real, me afoga. Não quero viver no limite do real e da ficção. Bem melhor que fosse só ficção. Inventaria mundos melhores, utopias verbais. Deixaria aquilo que não dou conta de lado. Se não entendo para que perder meu tempo.
Deixar de lado é o mesmo que deixar pra lá, deixar estar, não se aborrecer e desencanar. Como é bom desencanar. Mas não tem jeito. Minha matéria  real sempre vai se confundir com a virtual e juntas saem para fazer um passeio.              

A perturbação da incontinência verbal que leva a virtual começa de novo a me contaminar. É como um vírus: contamina, fica inoculado, depois de um tempo começam a aparecer os sintomas. Sinto feliz de ter voltado. Não causa dor, mas angústia boa. Dois tipos de angustia existem. Aquela que identifico como a melhor, que escarafuncha a psique em busca de matéria para remover, seja de que forma for; e aquela que paralisa que não renova, que não remove nada, mas só faz ficar na prostração.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

contos de viagem

O prazer

Era domingo e o trajeto longo. Toda noite seria o palco. Viagens nos mais variados territórios. Ele entrou sem chamar muita atenção, mas mesmo assim ela o viu. Sentou-se do lado dela como mandava o bilhete e a numeração. Também ele não lhe prestou atenção, uma vez que italianas, um casal de mulheres lésbicas, aparentemente era mais interessante do que a vizinha de poltrona.
Ela o achou atraente, ele ou os filhos, meninos de adolescentes com uma farta cabeleira, de pele lisa, verdadeiros apolos de alta potência hormonal. Um dos meninos arruma confusão com o china que está sentado no seu lugar. Ele nem se mexe, manda o menino procurar o motorista e resolver a pendência. O menino é arrogante e fala alto, como se fosse o dono do espaço.
Muita gente, poucos lugares. O dele e dela estavam garantidos. Ela tenta falar algo, diz que o garoto é agressivo, pede calma. Tudo se resolve. O ônibus sai.
Estavam numa poltrona que não dava para esticar as pernas. De repente já ía longe o carro, auto-carro, e ela sente algo se esfregando em sua perna. Não sabia se era verdade o que sentia, a intenção, ou se era o balanço do ônibus. Não sabia definir, achava que ele estava roçando sua perna, mas não tinha certeza, podia estar fantasiando, seria o desnível da estrada. Não tinha como ter certeza e estava achando bom, não tinha o que fazer. Estava ansiosa e com medo, pensava se aquilo era correto, e o que ela perderia se cortasse a ação, o que ganharia. A aventura, o momento, o escondido, tudo a excitava. Os filhos dele estavam ali, um do lado, um do outro, e sua mulher, onde estaria? Deixou-se ficar parada para ver se confirmava o contato. Deixou a mão cair parada e sentia que não era o desnível do relevo que fazia a perna dele bater na sua. Ele então se insinuou mais . Deixou seu braço encostar com vontade no dela e pôs a mão na perna dela, apertando com gana e vontade. Ela estava com o casaco no colo, ele então apertou, acarinhou, acarinhou, caminhava com mão em direções descontroladas, mas com objetivos fixos. Ela barrou a mão dele. Ficou confusa, gostava, mas estava atordoada.
Ele levantou, tirou a mão dela e pegou seu casaco que estava no bagageiro do ônibus . Colocou então o casaco no meio sobre as duas pernas, a dele e a dela e incessantemente a tocava.Ela também o tocava, nada tinha a perder . Ele agia com as mãos por baixo do pano e quem o olhasse no escuro veria o rosto mais impassível. Olhos fechados sentindo o tato o que por baixo ocorria. A mão ía e vinha, era mais ousada certas vezes, ela deixou, ela o brecou. Ele então virou-se de lado, pôs a mão no seu colo, abraçou-a, meteu a mão no peito dela. Ela cedeu, ria por dentro e fechava os olhos, se deixava levar pela brincadeira. Achava-se louca, isso nunca tinha acontecido. Gostava e ao mesmo tempo sentia algo estranho, era um estranho,um estrangeiro, tanto melhor pensou, mas o que iria achar? Uma mulher que mal acabou de ver e que se deixa levar por um desconhecido. Os pensamentos irrompiam, não deixou que ele abrisse seu fecho éclair . o dele já estava aberto, ela passava a mão sobre sua calça jeans e procurava algo com uma consistência mais dura, queria sentir o volume, a densidade da peça, onde estaria? Pensou nos eunucos do harém do Sultão Mohamed , será castrado? Só sentia a parte mole. Mas quando menos esperava no alto a peça estava lá, já ligada, em pé olhando para ela por baixo dos panos.
Ela assustou-se, a mão dele se encaminhou só, para si próprio . Ele fazia seu próprio movimento em silêncio, ela então encaminhou sua mão e alisou, gostava da densidade,achava gostoso, mas não provou o gosto.
Ele virou para ela e beijou-a, beijaram várias vezes, acarinharam-se na face, ficaram de mãos juntas, mãos dadas. Ela deitou sua cabeça sobre o ombro dele e tentou dormir. Ele deitou sua cabeça sobre a dela e conversaram. Ele conta sobre os filhos, ela pergunta da esposa, ele diz que é divorciado e que tem ainda mais uma filha pequena de outra nacionalidade. Diz a ela o que faz, que conhece seu país, ela diz o que faz. Ficam assim de mão dadas o resto da viagem, ele dorme, ela não.
O destino chega. Saltam do ônibus e não mais se vêem.

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...