terça-feira, 15 de junho de 2021

Abril de 2020

Abril de 2020 -Pandemia mundial 1 Em casa, buscando livros que ajudem na minha pesquisa vem sempre a mesma pergunta, será a que imagem da pandemia será aquela que muitos filmes nos fizeram crer? Será que tanta gente é assim tão visionária a ponto de escrever em um mês livros e mais um monte de estratégias de como fazer nesse momento, ou tudo não passa de um povo que só quer se aproveitar da situação e ganhar um troco a mais. Nada contra, cada um que se guie e faça o que seu ego mandar, e publique o que quiser e como quiser, tanto faz desde que não estrague a massa mais do que ela já está estragada. Não, não tenho visão pessimista, mas aqui da minha janela toda vez que olho fico imaginando aquelas cenas de filmes onde se tem uma terra pós tudo completamente devastada por alguma hecatombe, guerra, meteoro, e o ser humano lutando para sobreviver e deixando aflorar a sua mais cruel e dolorosa feição, do ódio, do lucro, do egoísmo. Hollywood está cheia de exemplos, não vou pagar para vê-los nesse momento, mas é a imagem do “Ensaio sobre a cegueira” a que mais me vem à cabeça, o livro é de José Saramago e o filme do Fernando Meireles. Pensando no filme, vejo que estamos ainda no início, na contaminação. E ela é que vai definir quem fica e quem vai. Lá a comorbidade do vírus não é tão grande, todos ficam cegos, mas ficar cego não mata. Aqui a contaminação também é aterrorizante, mas com o agravante de que o vírus hoje, além de ser transmitido com super velocidade, também mata, mata a todos sem poupar classes, gêneros, credos, raças, idades. Algo assim com tamanha letalidade a ficção não conseguiu fazer. Ultrapassa a nossa capacidade de criação fazer algo que pode nos exterminar, sem que tenhamos um salvador, e talvez por isso, por não conseguir racionalmente dar conta de entender e expressar não consigamos criar. “Melancolia”, filme de Lars Von Trier, talvez seja o que melhor relate o embate onde não sobrará ninguém para contar. Mas o que faz a ficção nesse momento? Faz pensar a realidade. Do alto do meu morro, numa posição privilegiada vejo a cidade e escuto, não me atrevo a sair, nem notícias tenho visto. Mas hoje, sábado, o barulho é maior que de ontem. Parece que tem gente que ainda não se tocou, ou que num ato inconsequente desafia o poder do vírus. Mas também, os exemplos de cima, não censuram o exercício de egoísmo, pelo contrário, até o estimulam. Faz algum tempo que as sociedades vem vendo crescer certos tipos e tribos que desconsideram completamente o que é humanidade. Discursos de tal forma podres que nem tenho palavras para adjetivar, além de podre mesmo. Algo que é tóxico para a espécie e para o planeta, que não serve para nada, e o pior, um discurso que infelizmente agrega gente que se pensa do bem, gente que sequer pensa no porquê da sua indignação, usam uma palavra chave, ‘corrupção’, para fundar a sua filiação a esse discurso, essa mesma palavra cuja ação continua aí, e que é corrente em muitos que defendem a sua extinção. Eu tinha vontade de entrar em certas cabeças para ver qual foi o chip que foi ali implantado, pois sem dúvida a ação é digna de um filme arrebatador que no momento me foge a racionalidade. Alguém um dia falou, uma mentira repetida mil vezes vira uma verdade( frase batida), e assim foi o que aconteceu nos vários momentos da humanidade, toda história contada é contada a partir de quem estava ali no poder para contá-la, e mesmo quando ela fica sujeita a uma revisão, a mentira introjetada é difícil de sair. Acho que vivemos uma situação assim, e quanto maior a ignorância geral, mais cruel o processo de desinfecção de retirada do vírus. Vejo que socialmente a maneira como certo vírus entrou nossa sociedade é muito semelhante ao percurso do vírus visto na biologia, ele chega, se instala, vai desconstruindo toda estrutura social organizada, contamina tudo, promove um desmonte ,se muda, camufla e vai embora. Parece outra ficção, aquele filme onde os alienígenas vem pegar toda a nossa energia, pois acham que diante do que veem isso aqui não tem resgate, e não temos, pelo menos aqui, nesse momento, alguém que nos de esperança. Mas aí, como que diante do inominável, pequenos atos de esperança começam a ser vistos. A sociedade sem esperar por um Messias falso começa a entender que o discurso era falso, que os planos não existiam, que tudo não passou de uma enganação e começa reagir, a se transformar. Vivemos um momento que ficará na história da humanidade, estamos frente a frente com o acontecimento do século, que embora não saibamos como terminará será um divisor de águas, se quisermos, para esquecermos de muita coisa que fazíamos errado e que precisaremos modificar, que a humanidade tenha olhos para se ver e crescer, sabendo que do jeito que está não dá mais para ficar.

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