quarta-feira, 30 de junho de 2021

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérola cheia de grosseria e mágoa. Num tom imperativo o personagem manda _ Estuda Kardec que você vai entender. Como se ele já fosse o expert no assunto com duas semanas de leitura, pois tem a fé. Senti pelos fios invisíveis da internet o rancor indevido, mágoa destilada, vociferada como jamais imaginei. Pergunto-me o que fiz a esse personagem para ele agir assim, para ter tanta mágoa justo com quem mais o ajudou e fez tudo por ele. Minha razão e fé, desconfiam desses personagens que usam a busca pelo divino para concentrar mais amargor e mais tristeza. Sim, porque diante de um comportamento desse, com tamanha falta de tato e tamanho rancor só pode estar se gerindo dentro uma doença e não uma cura, a treva e não a luz. Não vejo ali o espírito de compaixão, a gentileza dos espíritos luminosos e nem dos seres iluminados, seja em que nível for. O processo é hereditário, é doentio, e não digo isso porque fui desprezada, depois de ter feito de tudo, mas porque é assim mesmo. O que foi feito de forma abnegada, de forma incondicional durante todo tempo, esse personagem não vê, talvez nunca veja, porque só vê a si mesmo. Se foi descontentado por uma coisinha mínima fez daquilo o amargor de toda vida. E pisou e desprezou. E culpa quem o ajudou. Desconsidera tudo que fizeram por ele, e por isso, por não saber ter gratidão, por não saber deixar de ter mágoa, por ser falsamente um ser amável é que ainda tem muito que aprender. Se as lições de Kardec conseguirem tirar dali a máscara do orgulho, da prepotência e da arrogância já será um grande ganho para a próxima encarnação. No entanto, só com São Tomé. O que mais acontece é a fuga na fé, é a alimentação superficial que tampa os erros e não enxerga a realidade e responsabilidade, em vez de autoconhecimento e conscientização, vem uma alívio superficial, uma falsa paz que se deteriora na primeira discussão mostrando o que de fato é. Lamento muito pelo personagem. Infelizmente a leitura é essa. Não acredito que possa mudar. Quem deve mudar sou eu e esquecer que o personagem existe. 19/12/2017

Meu encontro com Brad Pitt (1)

Mas um dia de quarentena, 6 de maio de 2020, se casada fosse comemoraria 19 anos, como não sou, somente lembrei da data na hora de escrever. Já passava de cinquenta dias o lockdown e sempre na mesma hora, para manter a rotina, eu tomava meu cafezinho sentada na sala diante de alguma coisa que passava na TV. Naquele dia não foi diferente quando escuto a frase: _ “Você poderia ser ela”, parei, e como num ímpeto respondi: _ “Sim eu poderia” . Foi aí que Brad deu um sorriso e sentou-se ao meu lado. Diante do inusitado da cena ofereci-lhe um café e ele aceitou. Começamos a conversar, Brad não conhecia o Rio de Janeiro, não conhecia nada, nem mesmo o café que achou com um gosto forte. Na conversa chegamos à janela, e do alto do morro de Santa Teresa onde moro eu mostrava para ele as direções da cidade maravilhosa. _ Olhe para a esquerda vemos o caminho Niemayer, lá é Niterói, para chegar temos que atravessar essa ponte que você vê em frente, ela fica sobre a Bahia de Guanabara. Aquelas montanhas lá longe com um formato de dedo é o Dedo de Deus, Brad olhou-me estranho, mas na hora não me toquei, lá é a Serra dos órgãos, em Teresópolis e Guapimirim. -A esquerda tá vendo a imensidão de casas e prédios, ali é o que chamamos de subúrbio e sobre aquela colina que fica no meio do mar de casas, hoje está bem claro, vemos a igreja da Penha, bem alta que para chegar temos que subir muitos degraus,365, o número de dias do ano. A cada palavra minha Brad surpreendia-se, a paisagem do alto é muito diferente daquela que vemos da rua e agradava aos olhos olhar a cidade como um drone, planando como um pássaro ao sabor do vento local que vinha do mar. Continuamos na janela um bom tempo a noite já começava a despontar e pequenas luzes já acendiam como estrelas, um azul marinho ia aos poucos tomando conta do céu. _ Olhe agora a frente, Brad, numa reta temos a catedral com essas luzes que mudam de cor, e a esquerda aquele relógio é a Central do Brasil, que não é mais o centro de nada. Também está vendo aquela passagem alta são os arcos da Lapa, ali passa o bondinho que não está funcionando, abaixo o Circo Voador e a Fundição Progresso, se fosse um dia normal veríamos a praça cheia de gente a curtir a chegada da noite no final do trabalho. Brad olhava-me curioso e a cada exposição minha fazia perguntas. Quando cansamos de olhar pela janela voltamos para dentro, a sala já estava escura o que me fez acender o abajur colorido enchendo o ambiente com uma luz diferente. Ele olha a mesa com um quebra cabeças de mil peças pela metade da montagem, sorri e diz que tenho muita paciência. Depois se dirige à estante, se diverte olhando a coleção de São Francisco e tenta imitar cada pose do Santo, sentado, deitado, olhando para cima e para baixo, com a cabeça para esquerda e para direita, braços para o alto e para baixo, ou somente no meio do corpo com um carneirinho na mão. Rimos muito com seu jeito meio sem jeito de representar as posições. Dando um passo para frente, numa rapidez de movimento, ele rodou o globo terrestre iluminado que eu tenho ao lado do sofá, olhamos o mundo como se fosse uma pequena bolinha a ser manipulada por alguém. Saímos da sala tomamos a direção do corredor que leva à cozinha e aos quartos. Ele entra na cozinha e entro junto, a frente na janela são muitos os cactos que eu planto e a esquerda sobre a mesinha de refeições rápidas tem um quadrinho vermelho escrito, apaixone-se. Brad olha o quadrinho e com sorriso maroto seu olhar me invade, explico para ele que é uma forma de se ver a vida, apaixonando-se por ela. A vida é um grande negócio digo eu, já que a vida gosta de quem gosta dela. Minha cabeça não parava, eu ia a cada passo buscando palavras no meu tom professoral para mostrar a ele cada coisa que fazia parte do meu universo pessoal, da minha casa, minhas emoções e sentimentos diante de cada objeto escolhido por mim para habitar aquele espaço. Entramos no quarto do meio, Brad se depara com os quadros na parede e pergunta da dor de uma imagem de um suposto Sebastião presente na pintura de um amigo. Depois de novo ri, quando observa um quadro azul com a imagem disforme do que parece um casal. Explico que esse quadro comprei num brechó que não sabia bem porque havia comprado, mas que tinha achado a imagem bonita. Ele de novo sorriu. Seguimos e chegamos à biblioteca, ali meu espaço de trabalho e também de prazer ao me derramar sobre o conteúdo de cada livro que me traz o mundo de presente. Espaços reais e imaginários que nos alimentam a alma para entender o que a vida nos traz. Brad não deu muita atenção uma vez que o que eu falava demandava a leitura, nenhum livro se mostra sem que tenhamos tempo para ele. Na porta ao lado da biblioteca era meu quarto. Pelo tempo em que estávamos de conversa a escuridão já tomava o lugar, acendi o fio de luz vermelha que fica sobre a cabeceira da cama. Brad me olhava, no que parecia entender e não entender o que se passava na minha cabeça. Pergunto a ele se quer me beijar, ele responde que sim, seu coração bate acelerado sua respiração também. Começo a desabotoar sua roupa, um lindo traje digno de um figurino de Hollywood, até que ele mesmo o faz, suas mãos tímidas repetem as minhas e nos tocamos ao ritmo lento de uma música que somente em nossas cabeças soava. Nos enlaçamos lentamente na atmosfera do quarto, com a penumbra das luzinhas dando um tom misterioso e mágico ao momento, ficamos ali boas horas onde parecíamos nos conhecer de muito tempo. Já era madrugada, quando de repente meus olhos se abriram, vi que estava ainda na sala, a TV ligada baixinho e na tela do netflix a imagem congelada do filme – O encontro.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Abril de 2020

Abril de 2020 -Pandemia mundial 1 Em casa, buscando livros que ajudem na minha pesquisa vem sempre a mesma pergunta, será a que imagem da pandemia será aquela que muitos filmes nos fizeram crer? Será que tanta gente é assim tão visionária a ponto de escrever em um mês livros e mais um monte de estratégias de como fazer nesse momento, ou tudo não passa de um povo que só quer se aproveitar da situação e ganhar um troco a mais. Nada contra, cada um que se guie e faça o que seu ego mandar, e publique o que quiser e como quiser, tanto faz desde que não estrague a massa mais do que ela já está estragada. Não, não tenho visão pessimista, mas aqui da minha janela toda vez que olho fico imaginando aquelas cenas de filmes onde se tem uma terra pós tudo completamente devastada por alguma hecatombe, guerra, meteoro, e o ser humano lutando para sobreviver e deixando aflorar a sua mais cruel e dolorosa feição, do ódio, do lucro, do egoísmo. Hollywood está cheia de exemplos, não vou pagar para vê-los nesse momento, mas é a imagem do “Ensaio sobre a cegueira” a que mais me vem à cabeça, o livro é de José Saramago e o filme do Fernando Meireles. Pensando no filme, vejo que estamos ainda no início, na contaminação. E ela é que vai definir quem fica e quem vai. Lá a comorbidade do vírus não é tão grande, todos ficam cegos, mas ficar cego não mata. Aqui a contaminação também é aterrorizante, mas com o agravante de que o vírus hoje, além de ser transmitido com super velocidade, também mata, mata a todos sem poupar classes, gêneros, credos, raças, idades. Algo assim com tamanha letalidade a ficção não conseguiu fazer. Ultrapassa a nossa capacidade de criação fazer algo que pode nos exterminar, sem que tenhamos um salvador, e talvez por isso, por não conseguir racionalmente dar conta de entender e expressar não consigamos criar. “Melancolia”, filme de Lars Von Trier, talvez seja o que melhor relate o embate onde não sobrará ninguém para contar. Mas o que faz a ficção nesse momento? Faz pensar a realidade. Do alto do meu morro, numa posição privilegiada vejo a cidade e escuto, não me atrevo a sair, nem notícias tenho visto. Mas hoje, sábado, o barulho é maior que de ontem. Parece que tem gente que ainda não se tocou, ou que num ato inconsequente desafia o poder do vírus. Mas também, os exemplos de cima, não censuram o exercício de egoísmo, pelo contrário, até o estimulam. Faz algum tempo que as sociedades vem vendo crescer certos tipos e tribos que desconsideram completamente o que é humanidade. Discursos de tal forma podres que nem tenho palavras para adjetivar, além de podre mesmo. Algo que é tóxico para a espécie e para o planeta, que não serve para nada, e o pior, um discurso que infelizmente agrega gente que se pensa do bem, gente que sequer pensa no porquê da sua indignação, usam uma palavra chave, ‘corrupção’, para fundar a sua filiação a esse discurso, essa mesma palavra cuja ação continua aí, e que é corrente em muitos que defendem a sua extinção. Eu tinha vontade de entrar em certas cabeças para ver qual foi o chip que foi ali implantado, pois sem dúvida a ação é digna de um filme arrebatador que no momento me foge a racionalidade. Alguém um dia falou, uma mentira repetida mil vezes vira uma verdade( frase batida), e assim foi o que aconteceu nos vários momentos da humanidade, toda história contada é contada a partir de quem estava ali no poder para contá-la, e mesmo quando ela fica sujeita a uma revisão, a mentira introjetada é difícil de sair. Acho que vivemos uma situação assim, e quanto maior a ignorância geral, mais cruel o processo de desinfecção de retirada do vírus. Vejo que socialmente a maneira como certo vírus entrou nossa sociedade é muito semelhante ao percurso do vírus visto na biologia, ele chega, se instala, vai desconstruindo toda estrutura social organizada, contamina tudo, promove um desmonte ,se muda, camufla e vai embora. Parece outra ficção, aquele filme onde os alienígenas vem pegar toda a nossa energia, pois acham que diante do que veem isso aqui não tem resgate, e não temos, pelo menos aqui, nesse momento, alguém que nos de esperança. Mas aí, como que diante do inominável, pequenos atos de esperança começam a ser vistos. A sociedade sem esperar por um Messias falso começa a entender que o discurso era falso, que os planos não existiam, que tudo não passou de uma enganação e começa reagir, a se transformar. Vivemos um momento que ficará na história da humanidade, estamos frente a frente com o acontecimento do século, que embora não saibamos como terminará será um divisor de águas, se quisermos, para esquecermos de muita coisa que fazíamos errado e que precisaremos modificar, que a humanidade tenha olhos para se ver e crescer, sabendo que do jeito que está não dá mais para ficar.

Doença ou vida

A princípio podem as duas coisas do título serem contrárias, mas não são. Nem sei porque digo isso ou faço disso meu título depois de tantos anos sem escrever aqui. Já sei, é porque respondi a um questionário que perguntava isso, se velhice passa ou não a ser doença. Eu acho que não, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Mas por que essa sensação, vez por outra, de que envelhecer é ruim? Sim é ruim, quando nos são tirados os direito, o trabalho, a possibilidade se ser como gostamos. Não entendo muito bem as cabeças, nem a minha, mas acho que o que sinto é compartilhado por alguns, algumas, todes e por aí vai. Não sei, não seu, não meu, não de ninguém. Alguma coisa não está devidamente no seu lugar. O que é não sei,mas me desconforta, entristece, faz não achar e ficar amuada, estranha. O tempo passou , a vida passou, o dia acabou, só a porra da pandemia ficou junto com o inominável.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Personagem

O personagem:

Homem  meia idade:  conversa com um amigo - Sim,   uma desculpa qualquer faz a  idiota  cair na minha lábia,    sim ela é generosa,  é só eu contar uma historinha qualquer de que passei fome, de que tô nervoso, de que não estou bem, que ela cai. Vai lá me recebe, aceita a  minha fragilidade, inventada???, e fica tudo bem. Ganhei o dia, posso viver na minha ilha bem, sem maiores problemas, indo ao meu bar favorito, tomando meu drink favorito, indo a casa de amigos, conversando o dia todo. Afinal não quero mais saber de nada, trabalhei muito cedo, tive responsabilidades mil, agora quero é curtir a vida. Um barco, cuja responsabilidade de gastos eu não tenho, pago o cara, porque não sei remar. Curto a vida, fumo meu baseado,  dou chilique quando a coisa fica preta, grito para chamar atenção, faço cena de teatro para acreditarem que estou possuído, sou histérico  consciente. O que me atinge? Acho que nada, filhos  tê-los e  não sabe-los, não os crio, não os vejo, responsabilidades delas que os quiseram. Namorada, melhor coisa é a distância, meio chata, mas chega junto quando preciso. Nem tenho crédito no telefone para não ter obrigação de ligar   todo dia, nem que eu precise para o negócio, que precisaria, mas o que vem daqui dá para o gasto. No fim, a vida é muito boa, ela me enche o saco  para me tratar, mas tratar de quê? Tô bem, para que tratar. Tudo é o  discurso que faço . Encontro-a de vez em quando , chego para descansar da vida. Digo que tô mal e  pronto, nem sexo faço, nem precisa. Ela cobra e eu  conscientemente digo que não. Não tenho condições, ai ela se inibe, boa técnica  a minha. E assim vou levando a vida.  É ou não é  uma boa?     O amigo o olha meio sem entender. A pessoa é jovem, e com uma determinação de fazer gosto, determinação de quem não se importa com os outros, de quem finge o que não é, e fantasia a vida, fantasia  tudo.  

domingo, 7 de maio de 2017

Domingo no Rio

Domingo dia de descanso, quando recuperamos a bateria.
O que fazer nessa cidade tão linda e tão conturbada?  Vamos ver...

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...