domingo, 16 de maio de 2010

Série Intertextual II

Maio 2010


Barco bebum

Rio ainda deslocada,
desterritorializada, sem o sentido que foi dado ao termo, ou mesmo com ele.
Não sei e não encontrei ainda um porto em que pudesse me sentir ancorada.
Não sei se isso existe ou se não quero criá-lo.
À deriva sempre e completamente.
À deriva querendo firmar e uma vez firmada, querendo voltar.
Talvez um barco, um barco bêbado.
Mas o barco bêbado quando envelhece não quer mais a tempestade, procura um porto também velho e seguro, em que possa amarrar sua corda e lançar a sua âncora.
A âncora que pode me salvar e pode também me matar.
Na tempestade, a âncora é ruim pode virar o barco, enquanto à deriva o barco não vira, mas sai solto, podendo se espatifar a qualquer momento em algum rochedo.
No fim, da tudo na mesma, só muda mesmo a forma de ver e sentir o porto, o tempo e o mar.



Des-pensamento

Não tem coisa que seja mais menos, que lembrar de um estranho, um estrangeiro.
Li num livro, no entanto, que o melhor sexo é aquele que se faz com um desses .
Fiquei pensando e obviamente não cheguei a conclusão nenhuma.


Sujeitos Inomináveis

Qual o nome?
Qual a idade?
Qual a vontade?
Minha maior dificuldade é chegar a um nome.
Não consigo nomear, esqueço e me perco nessa necessidade de dar um nome próprio a um sujeito que quero inventar ou tirar da vida.
João, José, Joaquim, Joana, Josefa, Joaquina.
Todos os nomes são nomes, servem para o que servem, chamar, nada mais, já que os mesmos nomes se repetem pelo mundo a fora.
Diante disso, chamo Ele, pronome, sempre pronome, os sujeitos de meu drama.
Ele é que é indefinido, ele é que não se localiza, ele é que não ama, ele é que não se entrega, ele é que teme a dor, ele é que se distanciou e perdeu o nome, ele que quer esquecer meu nome.
No fim, somos todos, eu e ele, sujeitos inomináveis, sem voz, sem paz, sem história, sem ser.



História

O que é uma história se não algo que nos dispomos a contar sem saber onde vai dar. Às vezes tem base em fatos, outras tem base em invenção. È fato para um e não é fato para outro. Quando só vemos o que queremos ver, só entendemos o queremos entender, não adianta que alguém nos explique porque nossa compreensão não vai nos ajudar.
Por isso, cada um que conta uma história conta a partir de si mesmo, e entende também por si mesmo.
Como exemplo, lembro da história de Ninguém. Aquele personagem que usou a sua astúcia para não ser identificado e muito menos querido e amado.
Ninguém, era um indivíduo comum, assim me parecia, mas com o tempo revelou-se um ser diferente. Ninguém não tinha espaço próprio, vivia se deslocando de um lugar para o outro, sem saber ao certo como se fixar. Não sei se ele queria se fixar, falo isso pois é comum pensarmos em Ninguém de um lado para o outro, vagando e conhecendo coisas novas, mesmo que imaginárias.
Todavia, tinha um ponto a que Ninguém pretendia voltar. Queria voltar ao centro de sua terra, o lugar onde tinha nascido, dizia que era o mais lindo por do sol, jamais visto.
Não se sabia se lá nesse lugar tinha uma Penélope a sua espera. Julgávamos que não, pois poderia Ninguém ter ido quando quisesse, já que vivia vagando. Mas não ia, queria terminar algo, queria ser história. Queria deixar de ser ninguém e ser um nome na história do continente. Tinha essa pretensão.
O que não se entendia era porque Ninguém, que já matara o Ciclope ceifando-lhe a visão, que já matara a professora, que já criara os filhos, e se achava o maior e mais inteligente, insistia em fazer ainda parte de uma história como essa.
Coisas inexplicáveis, já que nem mesmo Ninguém sabia que fazia parte de uma história inventada por alguém, que Ninguém não queria lembrar.

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...