domingo, 30 de outubro de 2011

elocubrações


Sentimentos de papel
O tempo ensina, palavra do todo. Frase da razão.
O tempo ensina que o melhor é transformar em papel todos os sentimentos.
Desse jeito  alcança mais gente, se difunde pelo mundo e não  mundo, navega na internet.
Atinge a quem quer e quem não quer. Não vive encapsulado, mas se esparrama feito câncer quando sai da membrana  celular e busca na noite outras células para inocular.    
Sentimentos de papel viram de teoria, alertam, esclarecem, refletem, contaminam.
Obscuro desejo de todos, que poucos realizam.     



Mosaico de palavras
Não busco mais um único sentido. Me acostumei a ver múltiplos sentidos em tudo, ou não ver nada além do que o básico que se permite ver. Vivemos  o hoje  com essa famigerada vontade de ter que dar uma função para tudo. Não vivemos simplesmente contemplando o dia, a vida e a noite. Mas  ficamos numa masturbação  exagerada de nossa  mente em busca de alguma coisa, que  não vai fazer diferença para grande maioria dos mortais.
Sinto em mim mais a presença dele e de suas ideias do que eu queria sentir. Na verdade não é que eu sinta  ou veja nas minhas ideias as dele, não é isso, eu sinto em mim a interpretação das ideias dele. Como se eu  escutasse sem escutar o que ele falava e daí fizesse as minhas ideias das leituras que fiz das ideias dele. De repentea ideia dele verdadeira nada tem a ver com a minha . O que é mais provável.
Li Foucault falando da escrita de si mesmo, e  dessa escrita que só agora me fiz  conhecer, ele fala das cartas. Do  efeito da carta sobre quem lê. E que a carta para quem    é como a presença daquele que a escreve. Será mesmo assim?  Rememoro  todos os meus escritos e o quanto de minha  vida gastei,usei, escrevendo cartas para qualquer um que estivesse presente no meu momento.
Aprendi isso não sei quando, pensava que tivesse sido com Rahel, a personagem de Hannah Arent mas não foi. Foi antes disso que me dediquei a escrever cartas para mim mesmo.  Escrevia buscando sempre  elaborar o que me acontecia. Mas não elaborava, porque não relia as cartas. Escrevia para mim, e não me mandava as cartas, não me endereçava. Logo não tinha o prazer ou a dor de me ler. Então não  sabia o que eu tinha escrito para mim, e escrevia de novo a mesma carta. Fiz isso 999 vezes. Muitas vezes.  Guardei tudo, pois  não sou do tipo que joga o passado, nem o presente no lixo. Guardo  tudo,  só para que um dia  depois que eu  morrer alguém tenha o trabalho de fazer uma grande fogueira com todos esses papeizinhos  multiformes de mim.       
Todavia  pode ser que eu também tenha sorte, ou azar, de  alguém  preparado querer  fazer  mosaicos de  palavras   com trechos de mim. Seria uma coisa meio disforme, desconexa, translouca  no sentido mais que na forma.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Paris é uma festa

30\6\2011

Paris é uma festa, diz Ernest Hemingway. Festa para quem? Para qualquer mortal que passe pela cidade luz, uma cidade que desde o século XIX, se tornou como um janela para o mundo, cidade que é exemplo para outras cidades. Foi copiada, foi inspiradora, foi vista como modelo de modernidade. Cantada não só por Baudelaire  mas por tantos outros. Wood Alen é o mais recente que com seu  novo filme “ Meia  noite em Paris” traz de novo a capital dos franceses, que não  é só dos franceses, mas de todos que querem ser sofisticados. Uma  sensação de sofisticação paira na  cidade , que se tornou o lugar querido de escritores, artistas, pintores. A Paris da belle epóque, a Paris da vanguarda    artística da década de vinte, a cidade que abrigava além de Hemingway,  Bunuel, Dali, Picasso, Gertrude Stein, Eliot, Matisse,   e tantos outros que aparecem no filme de Alen, franceses ou não.
Mas acima de tudo  a Paris de Baudelaire, de Rimbaud,  de Mallarmé, de Degas, de Monet.
Aquela mesma de Monmartre, da Sacre Coeur, da Eifel, da Concorde, do Dorsay, de Champs Elisier, do Louvre, de Madelaine,  da  Galeria Lafayete, do Pere Lachaise, da praça de voges, da rua, do beco, das delicatessen, dos aromas, cheiros de perfumes, dos cafés na rua, do metro.
Tudo é  interessante, andar, flanar baudelairianamente pelos boulevares de Hausmann, e subir no alto da Torre de Eifel,  flanar no frio, no calor, a qualquer hora do dia e da noite. Se extasiar só por caminhar na rua, sem destinos, sem hora , sem nada.
Essa era a sensação,  a maior de toda a liberdade, literalmente, sem lenço e sem documento.
É preciso sentir a cidade, seu som, seu aroma, seu clima, seu ambiente, seu tempo.
 Todos deveriam pelo menos uma vez na vida ir a Paris. Não que seja melhor, mas é Paris, é diferente, é chique, é bom.    
O filme, ah! O filme, um tempo dentro do outro, um escritor americano, que quer estar naquela atmosfera  para criar. Que descobre num insight que sempre  tendemos a não presentificar,  achar que o tempo passado foi melhor que o nosso atual e  que o futuro pode ainda ser melhor.
Creio que a vida é sempre esperança, talvez de mudar o futuro e também o passado. Mas não se  muda o passado, diriam alguns, mudamos sim, mudamos todo tempo, pois a todo momento quando o relemos, quando o interpretamos de forma diferente estamos mudando o passado. Podemos não mudar os fatos, mas mudamos o entendimento que temos dele. E isso nos faz vivos. Isso nos possibilita seguir adiante. Seria isso o eterno retorno, que  alguém  já disse. Niestzche talvez.  Fato é que, voltamos  mas não lemos igual e não somos igual, por isso sempre tudo será diferente.
Cada vez que me leio, me leio de maneira diversa da que li da primeira vez.
Aquele que não possibilita a si mesmo se reler, é aquele que  está cristalizado, não apenas no seu tempo, ou no futuro, mas que está cristalizado no seu próprio conhecimento.          

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...