domingo, 1 de agosto de 2010

10\05\2010

De novo Ele

Escrevo um conto, meu personagem é o mesmo que insiste em permanecer. Nunca vi um personagem assim. Ele nunca vai de verdade, fica me rodeando, me torturando até que eu escreva mais uma vez sobre suas proezas e suas misérias, sua pobreza de espírito, sua falta de afetividade.
Acho que é isso que mais me comove nele e por isso acabo sempre cedendo aos seus apelos de escritura.
Ele só existe aqui, no papel, eu não o vejo de carne e osso, já o vi, mas hoje é como se nunca tivesse visto. Eu não saberia dizer se é gordo ou magro, se usa dentaduras ou tem dentes fixos, se toma banho todo dia,ou só vez por outra, se usa desodorante ou tem apenas o cheiro natural, se tem cabelos pretos ou grisalhos.
Que música gosta seria impossível definir. Talvez Piazolla fosse um bom chute, ou Roberto Carlos em espanhol, ou ainda quem sabe, Elvis Presley. Esse sim, acabo de me lembrar que quando eu pedia música maestro, ele sempre colocava o Presley cantando o amor. Acho que para me imitar. Eu adoro o Presley cantando "Love me tender". Me dá uma coisa por dentro, que acho que ele captou e por isso colocava.
Luz de vela, abajur lilás, parece até que meu personagem era romântico, mas não queria ser. Talvez fizesse isso para me agradar, ou apenas para criar o clima.
Não sei, já passei meses pensando nos porquês de tudo isso. Mas jamais creio que chegarei a uma conclusão.
Tem coisas na vida que são verdadeiros mistérios e permanecem assim para sempre. Uma vez ele falou isso. Tem mistérios... não sei o que quis dizer, se se referia a mim, ou a ele mesmo.
O fato é que tudo que ele me diz ao ouvido eu procuro entender, ou sentir, conforme o que foi dito, para depois criar o que ele me pede, a sua história. Todavia eu tenho que ser muito perspicaz e rápida para a informação não perder o sentido ou cair no esquecimento, meu e dele.
Acho também que ele tem mania de mentir, mente para mim querendo que eu escreva o que ele não é, e mente para ele mesmo. Acho que ele não se conhece muito bem, ou ao contrário se conhece tanto que prefere mentir ao se deparar com sua verdadeira face.
Eu não sei mais o que fazer com ele, se escrevo ele me cobra coisas, se não escrevo também. Eu tenho mil histórias com ele, mas ele não quer entrar em qualquer uma, quer aquela onde ele se saia bem na fita, de preferência uma história que nunca existiu.
Eu temo ficar obcecada por ele toda a vida. Talvez eu o faça ter outros nomes, pode isso ser uma técnica ou talvez eu apenas o deixe cair na sua insignificância que o tempo apagará, não sem dor, sem saudade, mas apagará com uma imensa frustração.

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...