sexta-feira, 29 de abril de 2011

2º Tango


_ Não chega a me causar problemas.

Respondi meio sem pensar sobre a interrogação feita.

Passara já 2 anos, nenhuma conversa, nenhum dia deixara de ver a minha frente a imagem do homem branco, cabelos grisalhos, olhos levemente puxados e a cicatriz no ombro esquerdo, ou seria direito?

Lembrava sempre, ele se parecia com Richard Gere. Por isso, toda vez que olhava o ator holywoodiano na TV ,ou cinema, lembrava-me que quando transava com ele pensava em Gere, e a transa ficava ainda melhor. Ele sabia disso mais não ligava, sentia-se até mais envaidecido. Ele se olhava no espelho e pensava que poderia ser o ator, eu já tinha falado isso para ele, ainda mais quando uma vez fez um corte sinistro no cabelo.Cortou tanto, que ficou aparecendo a coroinha do alto da cabeça. Eu falei, o filho falou, e a desculpa foi que iria menos ao cabeleireiro. Eu disse: _ Perdeu a imagem do Gere, meu tesão vai ficar prejudicado. Como, com esse cabelo, eu vou achar que estou transando com o ator? Ele riu e ficou sério ao mesmo tempo. Mas eu sabia, que no seu riso tinha um entendimento da questão.

Era sempre assim, por mais que dissesse, que o que eu falava não importava, sempre as atitudes posteriores diziam coisas diferentes.

Eu falava muito, falava pela estranheza que sentia e falava porque tinha que falar. Não falava diretamente, mas por metáforas, quem fala diretamente?

sábado, 2 de abril de 2011

Série: Coisas de mulherzinha

Coisas de mulherzinha

Todas queremos ser mulherzinhas, indistintamente.

Fazer o que dá na telha, comprar o que é mais fútil. Ter enorme preocupação com a unha e com a depilação. Pensar o dia inteiro no homem da vez, quando ele está mesmo na vez. Muitos dizem que não é isso coisa de mulher interessante, é de mulher fútil que não tem o que fazer. Tudo uma grande mentira, para minar a coisa mínima de que é feita a vida.

As grandes preocupações só sobrevivem se as mínimas estiverem no lugar. Sem essas pequenas as grandes não existem. Por isso essa série vai falar disso, das pequenas coisitas básicas do nosso dia-a-dia, que fazem também literariamente a vida ser o que é.

A incontinência

A perturbação da incontinência verbal que leva a virtual começa de novo a me contaminar. É como um vírus: contamina, fica inoculado, depois de um tempo começam a aparecer os sintomas. Sinto feliz de ter voltado. Não causa dor, mas angústia boa. Dois tipos de angustia existem. Aquela que identifico como a melhor, que escarafuncha a psique em busca de matéria para remover,  seja de que forma for; e aquela que paralisa que não renova, que não remove nada, mas só faz ficar na prostração.
Todo mundo deve ser assim. Na verdade, todo mundo é igual, só muda mesmo a maneira de olhar as coisas. Todo mundo cada vez mais parecido .  Eu igual a qualquer uma mulherzinha que se dá ao trabalho intermitente de pensar, de se pensar. Eu e qualquer mulherzinha verdadeira ou falsa. Loura ou morena de verdade ou de farmácia. Tanto faz, tanto faz... no fim é tudo mesmo igual. Os bichos que nos comerão serão sempre os mesmos. Mortas ou vivas, tanto faz.       

Crificção

s vezes br
 Às vezes brotam milhões de ideias  que evaporam como um gás volátil  em uma noite de sono. Talvez  na hora em que elas viessem naquele momento da noite escura eu devesse me levantar e dizer: _ então vem, vamos lá, vamos ver se você se sustenta nesse universo de torpor de uma semana de trabalho intenso. Elas não se sustentariam, morreriam de medo e não quereriam mais ver o que estava acontecendo. Ou lutariam bravamente contra aquele estado letárgico em  que me ponho vez por outra.
Falei para Ele que  me sentia melhor, que meus descalabros tinham me dado força para ir adiante. Todavia, depois que disse  isso, achei que era tudo mentira, falsidade que se diz ao terapeuta esperando que ele diga algo. Como quando o aluno adolescente pergunta o que já sabe, só para testar àquele que ministra a aula.
Ma s Ele não respondeu. Eu sei que uso meu descalabro como matéria bruta e fina para meu processo de criação, de vida.
Vida, criação, ficção, tudo dá na mesma. Se a vida somos nós quem  fazemos, quem construímos, logo é igual  a nossa ficção. Fazemos da vida a  ficção que queremos que ela seja.  Ora mais verossímil, ora menos. A parte menos é sempre a melhor.
Qualquer coisa que seja muito real, me afoga. Não quero viver no limite do real e da ficção. Bem melhor que fosse só ficção. Inventaria mundos melhores, utopias verbais. Deixaria aquilo que não dou conta de lado. Se não entendo para que perder meu tempo.
Deixar de lado é o mesmo que deixar pra lá, deixar estar, não se aborrecer e desencanar. Como é bom desencanar. Mas não tem jeito. Minha matéria  real sempre vai se confundir com a virtual e juntas saem para fazer um passeio.              

A perturbação da incontinência verbal que leva a virtual começa de novo a me contaminar. É como um vírus: contamina, fica inoculado, depois de um tempo começam a aparecer os sintomas. Sinto feliz de ter voltado. Não causa dor, mas angústia boa. Dois tipos de angustia existem. Aquela que identifico como a melhor, que escarafuncha a psique em busca de matéria para remover, seja de que forma for; e aquela que paralisa que não renova, que não remove nada, mas só faz ficar na prostração.

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...