sábado, 13 de setembro de 2008

Ninguém

Nome não tenho e identidade é híbrida, devo ser mais um personagem pós-moderno. Até mesmo para “desencanar” preciso de algo que vá além de minhas vãs explicações, sem sentido.
Sou ninguém. Por isso posso me dar ao luxo de falar sem perturbações sobre o que quero falar.
Loucos , estão todos loucos, só não dá para saber na primeira vez.Parecem normais . Mas se cutucamos surge aí um universo de configurações e simbologias e histórias mal contadas um verdadeiro sem sentido .
Eu sou assim, isso, ninguém em busca de uma vida que eu suponho que conheço.
Meu método é simples, tudo para não me fazer pensar coisas em vão. Não saio do esquema que criei.
Minha mesa tem meus papéis, que ordeno do meu jeito . As coisas são como são , pelo menos essas que eu lido domesticamente, mas as outras coisas, posso com elas fazer o que quiser, compreender como quero e nisso implica em achar que sei tudo que passa na cabeça de alguém.
Acordo cedo na maior parte dos dias, tomo meu café e começo minha atividade diária de ler e escrever. Leio mais que escrevo. Faço disso meu ganha pão.
O que penso é sempre interessante, não fujo a regra, minha capacidade de pensar é algo que eu de fato prezo na minha existência. Penso sobre o que os outros pensaram. Mas não penso sobre mim.
Sim, porque não há coisa que não tenha sido jamais pensada.
Penso muito, só penso.
Vida corre do lado de fora, carros, ônibus,metrô. Habito um lugar inóspito para o meu padrão de pensamento .
Mas tenho me acostumado com isso. Antes era diferente. Mas agora melhor que seja assim. Espaço não é tudo, mas me contradigo quando falo sobre isso.
Saio e volto. Não tenho espaço fixo. O que tenho são os livros, que são meus e deles sinto a falta . A falta que não sinto de outra coisa. Nem de sexo sinto tanta falta.
Gente não me faz falta, podia existir sem gente, mas não sem livros.
Sei do paradoxo disso, quem escreveria os livros.
Não me envolvo com gente, não tenho interesse, exceto pelo fato de vez por outra querer ter um prazer que sozinho não posso ter. Enquanto meu corpo não me pede para sublimar, tenho relações funcionais com pessoas funcionais.
Não sei se tenho medo do outro ou de mim.


Matéria bruta

É primitiva, serve de base para eu burilar , limar, torcer como um parnasiano. Somente nela posso dar a forma que espero.
Peguei-me esperando algo. Que surpresa!!!
Mas o material é mais duro do que eu imaginava.
Não tenho ferramentas para esculpir e não tenho tempo.
Eu tenho pressa, pressa, diz o coelho com o relógio na mão .
E Alice ficou olhando esperando a informação.


Por que não estamos na esquina?


Foi um grande non sense. Existir, não faz parte do contexto, não faz parte do texto decorado.
Decoramos o que já sabíamos. Coisas que fingimos não nos importar mas que importam,já que incomodam. Fingimos o tempo todo. Cada um com sua máscara de defesa. Processo árduo de preservação de si mesmo. Preservação de nós mesmos. Do espaço, da intimidade, das idéias. Pontos de vista opostos. Ninguém se arrisca, jamais. Nem olhar. Eu me arrisco, esvazio-me a cada dia, pensamentos tumultuados, questionamentos sem respostas, frases nominais.
O que suga tanto? O que não faz parte de nenhuma história.
Por que não estamos na esquina? Por que não atendemos aos outros chamados?.
“Punhetação” mental. Imaginar não é criar expectativas.
E depois do encontro, o que há? Certamente outro encontro.
E enclausurados em si mesmo os encontros sobrevivem.




O homem do ponto

Sair não saia. Sua religião não permitia. Achava que sabia encontrar sozinho. Já existia há tempos. Ninguém reclamara de seu tato .Mas o ponto que leva seu nome era uma obsessão. Cada vez que comia voltava-se em meio a refeição para aquilo que poderia levar sua marca. No entanto, nessa fase a mão parecia esquecer-se do dever.
Pelo estudo entendia que certos pontos só aparecem por intermédio de uma conflagração de outros. Mas isso era em tese, e em tese também tinham outras questões.
Instaurou-se a perturbação. Deixaria seu ponto/nome marcado ou negaria seu Deus? O culto era do absurdo, de joelhos não conseguia rezar.
Sentou-se e preferiu abdicar de seu trono e de seu nome.






A origem da tragédia através do doce


Bateu a porta, entrou na sala. Procurou na mesa o doce trazido e deixado.
Sentou-se no sofá velho manchado de vinho e chocolate e ficou comendo . Seria mesmo uma pessoa cruel? Reviu suas falas para tentar entender do que falavam. Abriu o dicionário no verbete e nada ficou muito claro.
Não entendia a colocação que ela tinha feito. Pensou ao contrário, invertendo o que ouvia, e não fazia sentido.Lembrou-se do desenho infantil, uma bruxo e um gato. Mas o que tinha isso a ver?
Pensou mais, mais, pensou nos animais, em Nietzsche, mas não iria tão longe, subestimou-a. Ficou louco e se matou. Seria esse o caminho?
Pegou mais um doce, olhou as horas, enfiou tudo na boca. Engoliu .Junto com a saliva foram também os últimos pensamentos que ela tinha deixado. Melhor não questiona-los. Levantou-se, foi para o quarto, pegou um lençol limpo estendeu na cama, deitou e dormiu.

A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...