quarta-feira, 30 de junho de 2021

Meu encontro com Brad Pitt (1)

Mas um dia de quarentena, 6 de maio de 2020, se casada fosse comemoraria 19 anos, como não sou, somente lembrei da data na hora de escrever. Já passava de cinquenta dias o lockdown e sempre na mesma hora, para manter a rotina, eu tomava meu cafezinho sentada na sala diante de alguma coisa que passava na TV. Naquele dia não foi diferente quando escuto a frase: _ “Você poderia ser ela”, parei, e como num ímpeto respondi: _ “Sim eu poderia” . Foi aí que Brad deu um sorriso e sentou-se ao meu lado. Diante do inusitado da cena ofereci-lhe um café e ele aceitou. Começamos a conversar, Brad não conhecia o Rio de Janeiro, não conhecia nada, nem mesmo o café que achou com um gosto forte. Na conversa chegamos à janela, e do alto do morro de Santa Teresa onde moro eu mostrava para ele as direções da cidade maravilhosa. _ Olhe para a esquerda vemos o caminho Niemayer, lá é Niterói, para chegar temos que atravessar essa ponte que você vê em frente, ela fica sobre a Bahia de Guanabara. Aquelas montanhas lá longe com um formato de dedo é o Dedo de Deus, Brad olhou-me estranho, mas na hora não me toquei, lá é a Serra dos órgãos, em Teresópolis e Guapimirim. -A esquerda tá vendo a imensidão de casas e prédios, ali é o que chamamos de subúrbio e sobre aquela colina que fica no meio do mar de casas, hoje está bem claro, vemos a igreja da Penha, bem alta que para chegar temos que subir muitos degraus,365, o número de dias do ano. A cada palavra minha Brad surpreendia-se, a paisagem do alto é muito diferente daquela que vemos da rua e agradava aos olhos olhar a cidade como um drone, planando como um pássaro ao sabor do vento local que vinha do mar. Continuamos na janela um bom tempo a noite já começava a despontar e pequenas luzes já acendiam como estrelas, um azul marinho ia aos poucos tomando conta do céu. _ Olhe agora a frente, Brad, numa reta temos a catedral com essas luzes que mudam de cor, e a esquerda aquele relógio é a Central do Brasil, que não é mais o centro de nada. Também está vendo aquela passagem alta são os arcos da Lapa, ali passa o bondinho que não está funcionando, abaixo o Circo Voador e a Fundição Progresso, se fosse um dia normal veríamos a praça cheia de gente a curtir a chegada da noite no final do trabalho. Brad olhava-me curioso e a cada exposição minha fazia perguntas. Quando cansamos de olhar pela janela voltamos para dentro, a sala já estava escura o que me fez acender o abajur colorido enchendo o ambiente com uma luz diferente. Ele olha a mesa com um quebra cabeças de mil peças pela metade da montagem, sorri e diz que tenho muita paciência. Depois se dirige à estante, se diverte olhando a coleção de São Francisco e tenta imitar cada pose do Santo, sentado, deitado, olhando para cima e para baixo, com a cabeça para esquerda e para direita, braços para o alto e para baixo, ou somente no meio do corpo com um carneirinho na mão. Rimos muito com seu jeito meio sem jeito de representar as posições. Dando um passo para frente, numa rapidez de movimento, ele rodou o globo terrestre iluminado que eu tenho ao lado do sofá, olhamos o mundo como se fosse uma pequena bolinha a ser manipulada por alguém. Saímos da sala tomamos a direção do corredor que leva à cozinha e aos quartos. Ele entra na cozinha e entro junto, a frente na janela são muitos os cactos que eu planto e a esquerda sobre a mesinha de refeições rápidas tem um quadrinho vermelho escrito, apaixone-se. Brad olha o quadrinho e com sorriso maroto seu olhar me invade, explico para ele que é uma forma de se ver a vida, apaixonando-se por ela. A vida é um grande negócio digo eu, já que a vida gosta de quem gosta dela. Minha cabeça não parava, eu ia a cada passo buscando palavras no meu tom professoral para mostrar a ele cada coisa que fazia parte do meu universo pessoal, da minha casa, minhas emoções e sentimentos diante de cada objeto escolhido por mim para habitar aquele espaço. Entramos no quarto do meio, Brad se depara com os quadros na parede e pergunta da dor de uma imagem de um suposto Sebastião presente na pintura de um amigo. Depois de novo ri, quando observa um quadro azul com a imagem disforme do que parece um casal. Explico que esse quadro comprei num brechó que não sabia bem porque havia comprado, mas que tinha achado a imagem bonita. Ele de novo sorriu. Seguimos e chegamos à biblioteca, ali meu espaço de trabalho e também de prazer ao me derramar sobre o conteúdo de cada livro que me traz o mundo de presente. Espaços reais e imaginários que nos alimentam a alma para entender o que a vida nos traz. Brad não deu muita atenção uma vez que o que eu falava demandava a leitura, nenhum livro se mostra sem que tenhamos tempo para ele. Na porta ao lado da biblioteca era meu quarto. Pelo tempo em que estávamos de conversa a escuridão já tomava o lugar, acendi o fio de luz vermelha que fica sobre a cabeceira da cama. Brad me olhava, no que parecia entender e não entender o que se passava na minha cabeça. Pergunto a ele se quer me beijar, ele responde que sim, seu coração bate acelerado sua respiração também. Começo a desabotoar sua roupa, um lindo traje digno de um figurino de Hollywood, até que ele mesmo o faz, suas mãos tímidas repetem as minhas e nos tocamos ao ritmo lento de uma música que somente em nossas cabeças soava. Nos enlaçamos lentamente na atmosfera do quarto, com a penumbra das luzinhas dando um tom misterioso e mágico ao momento, ficamos ali boas horas onde parecíamos nos conhecer de muito tempo. Já era madrugada, quando de repente meus olhos se abriram, vi que estava ainda na sala, a TV ligada baixinho e na tela do netflix a imagem congelada do filme – O encontro.

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