Pânico e paixão
Hora de acordar, a criança dorme. Saiu a pouco de dentro do útero e o dia todo só dorme com pequenas pausas para comer e deixar ao mundo os detritos da ação que executa. Só isso. Ao lado dela todo um exército de aparatos e preocupações, toda uma gama de emoções e sentimentos. Dores de perda e visões do futuro, medos e ilusões. Tudo parece tão bruto quando se olha o ser indefeso e sereno que ela é.
Horas e horas a dormir, a mergulhar no mundo de sonhos indecifráveis para ela e para todos. Na face muitas vezes aparece um riso, riso de anjo.
Entretanto, tem horas que o anjo se transforma, fica vermelho, abre a boca, berra,berra, berra alto. Em torno se estabelece o desespero, o medo interminável que aquele som provoca, a dor. Tudo é feito para ela parar de berrar e ela as vezes não pára. O berro a noite parece pior. Com a escuridão, com silêncio da rua, parece que o berro se torna mais forte . Ao redor daquele ser, o sono de quem cuida tem vontade de jogar pela janela, pensa , mas depois se tortura porque pensou o que pensou. Se pune amando mais, amando incondicionalmente, apaixonadamente. Jamais se arrepende, apenas quando o vermelho do berro irrompe furioso a marcar tempo espaço e o desespero. Mas no momento seguinte todo pavor se desconstrói e com um sono calmo e um sorriso de anjo a criança dorme.
Rio de Janeiro,15/2/2009
domingo, 30 de agosto de 2009
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