domingo, 30 de agosto de 2009

Caderno do cotidiano

Cotidiano
26/08/2009

Se ontem buscava um sentido,hoje ele já encontrado e entendido, para daqui a pouco ser perdido, me dá certa segurança. A vida é isso mesmo. Se não temos um manual, Vida modo de usar, vamos seguindo com ela desse mesmo jeito, tropeçando aqui e ali. Fazendo coisas que queremos e outras que achamos que queremos, e só descobrimos que não era bem assim, quando chegamos ao final do trajeto.
O cotidiano nos mostra que tudo é possível, que uma falha química dentro de nós pode provocar estragos enormes em nosso ponto de vista.
De manhã a sensação de obscuridade é enorme. Sveglio, num bom italiano, e fico pensando em tudo que envolve o dia e a sensação esquisita. A vontade é de voltar a dormir, para na morte do sono, esquecer que tem vida. Mas não dá. Tumultos de pensamentos detonam em marcha lenta todo o universo de questões por vir. O telefone toca. Tem que levantar. Quando levanto esqueço o que sonhava, num misto de dormir e acordar. Esqueço o que pensava e que planejava registrar.
O dia segue, meio dia o ânimo é outro, os desejos são diversos. Outra luz sobre o dia, conforme o sol, as cores, o sentir vai também se transformando. Ainda sinto um quê latente,um certo desconforto mental. Mas estou dominando isso tudo. Estou monitorando o que sinto. Tomo atitudes de acordo com a vontade que está violada mas não prejudicada pela dor do sentimento.
Final da tarde, início da noite, disperso em trabalho e falas e contatos humanos sou outro ser. O discernimento parece claro, tudo tem sentido e objetividade. Um pouco de ansiedade talvez, em fazer essa constatação, mas a plenitude do sentido me parece algo mágico. Questiono como pude pensar diferente em outra hora do dia . Chego em casa sem idéias viciadas. Sou dona de mim outra vez, sei quem sou, tenho sentido, entendo questões.


Sentido- o que sinto.
25/08/2009

Onde está, alguém pode me dizer onde está esse filho da puta sentido da vida? Poderia alguém me afirmar com todas as letras se esse infeliz que nos atormenta de fato existe. Se ele não é apenas isso mesmo, a vida. Essa jornada insalubre, perigosa, chata, cheia de coisinhas e chatices e mimos e desilusões. Cheia de momentos bons que são contados sem valer muito a pena, cheia de coisas desinteressantes e interessantes também. Se tudo é interessante o que é essa jornada, se não algo que não tem muito sentido.
Tem gente que diz que o sentido está em alguma causa em nome da humanidade, do planeta, de um povo. Talvez estejam certos, mas em qual causa nós pobres mortais estamos envolvidos? Eu não conheço ninguém que não esteja envolvido com a sua própria causa, e ela, apenas ela. Às vezes uma coisinha a toa pelo social, uma cesta básica e mais o que?
E que porcaria de sentido é esse?
Me pergunta se tenho valores para minha vida, se tenho um sentido discernido no meu consciente, não tenho. Tenho o que todo mundo tem. Viver . Esse é o sentido dessa bosta. Viver, comer, dormir, transar quando dá. Criar filhos. Talvez seja esse o sentido da vida de muitos. Tenho filhos para criar. O sentido da vida das pessoas é ter um filho e botar o seu sentido neles. Eles são responsáveis pelo sentido da vida delas(dessas pessoas). Daí se perdem os filhos, morrem também. Dão sua própria vida pelos filhos. Lógico o sentido da sua está neles, tem mesmo que dar. São a sua maior preocupação.
Será que eu terei que ter um filho para encontrar o filho da puta do sentido.
Toda hora eu repito em aula, tem um sentido na frase, a reunião de palavras só visam ter um sentido, um significado , senão não importa.
Mas que diabo de significado é esse, se para mim é uma coisa e para outro, outra.
Eu cansei, cansei de colocar nomes masculinos no sentido que procuro.Meu sentido não tem nome masculino, na verdade ele não tem nome, porque ele não existe, ele é ele, ou melhor ele é ela e somente isso. Acabou essência, acabou a vida . É mesmo isso aqui, e ponto final. O bicho pode comer e se saciar com toda carne adiposa em excesso que tenho.
Mas o que fica? Nada. Talvez um retrato desbotado na parede, a lembrança de alguém durante um tempo, e depois nada. Quem lembra de minha bisavó hoje? Ninguém. Ninguém se lembra, mesmo daqueles que ainda fizeram alguma coisa pelo mundo, nem sempre são lembrados. Então qual a porra do sentido disso aqui.
Para o capitalista acumular riquezas, mas pra quem? para que? No corpo não tem riquezas anexadas, só se fizer como faraó, ser enterrado com tudo junto. E na mente? Que adianta tanta intelectualidade, tanto pensamento, se também isso se esvai, e nem precisamos morrer, o Alzheimer, come tudo e te entrega ao desconhecimento de todos e de tudo.
Então qual é o sentido, meu Deus ??? O senhor que está morto e que é lembrado por todos, porque simplesmente é o todos. Tá no meio, “eu”, não é outro, é eu mesmo. Deus não é o outro, é o eu.
Quando dizem o eu é o outro, é mesmo, mas o reflexo de nós que vemos no outro, e não o outro propriamente dito. O reflexo de nós mesmo no olho do outro, é isso que acalma o bebê. Ele se vê nos olhos da mãe .
E quando nos deparamos com um outro que nos atormenta ficamos atormentados com nós mesmos.
Não sabemos quem somos ou o que queremos. Também como saber com tantas opções.
Vivemos o século das opções e não sabemos escolher , eu não sei escolher, não sei decidir. Porque simplesmente não vejo a porra do sentido em ter que escolher, já que o sentido é ela mesma. Escolher ou não, tanto faz, não saímos dela(vida). Então porque cobrar a escolha.
Eu não tenho que decidir nada, ou tenho?
Saber o que eu quero para mim, isso importa tanto assim? Sabendo ou não, continuo vivendo. Não vou morrer por isso.
O problema está exatamente na bosta da consciência disso.
Talvez fosse tão melhor ser um lavrador, analfabeto, e arar a terra fazendo como seu avô fazia, e esquecer que existem os espaços entre cada veio de plantação, o verso.
Falo isso tudo, e nem sei se alguém vai entender o que falo . Mas que importa, ninguém vai ler mesmo,nem eu.
Esse monte de gente que fala e escreve: filósofos, estudiosos, teóricos, críticos falam pra burro e quem os lê, seus pares, às vezes. E falam, podem falar. E o povo na Universidade fica de queixo caído, aplaude. Tem coisa que não entendemos nada. São piores do que eu na minha crise de existência quando escrevo, mas tão lá, se conquistam um nome, ficam tempos, até o modismo passar.
Não é que eu queira isso, pois acho tudo que escrevo um grande bosta, Porque fui adestrada para isso. Bons são eles, bom é ele. Mas o que ele diz de diferente dos outros.
No fundo, todos dizemos o que pensamos, alguns mais, outros menos, dentro da ordem do discurso. E quem tá na ordem presta, quem não ta, não presta, sofre preconceito, rejeição. Quem faz o tipo, é bom, quem não faz, não presta.
Sempre são esses modelos pré-configurados pela época. Entretanto, tem alguns tipos que querem ser o oposto do modelo, ora, se é o oposto de algo continua estando dentro do discurso.
Mas, e a porra do sentido de tudo isso? Não tem. Vida é vida, aqui ou na Indochina , hoje cada vez mais igual em todos os lugares. Com os mesmos acessos. Alguém no Himalaia, pode estar agora escrevendo o mesmo que eu, sentido o mesmo que eu, - que tudo não passa de nada.
Que vida não tem nome masculino, que nós somos Sísifos na nossa jornada em busca do que não sabemos. Quando achamos que encontramos algo, ele escorre, se desmaterializa, se fragmenta, desterritorializa de nós, passa ocupar um outro lugar. E temos que começar de novo. E de novo, de novo , de novo.... sempre.
Alguém pode me dizer se isso tem sentido??? Porque não quero procurar durante toda existência.



Ele e o sofá branco
6/7/2009
Depois do gozo sentado no sofá branco, mão no queixo,o homem nu toca seu membro encoberto por uma camisinha cheia de esperma.
Sua cabeça parada, seus olhos fechados saboreiam o desdobramento da intensidade do primeiro gozo. Ao seu lado, no mesmo sofá a mulher o observa, ele desconhece o olhar dela. Sabe que ela está ao lado, mas por um momento dispersivo se esquece.
Ela o fita, ri consigo sem ser observada por ele. Quando ele se dá conta, quando sente, já está na hora de se levantar, percebe que ela o olha e pergunta. Ela diz que o olhava apenas e ri. Ele não sabe o que fazer quando é observado.
Talvez sempre fosse assim. Talvez sinta um desconforto ao ser olhado por outro. Não lhe pertence o prazer do vouyer . Não compactua com o jogo do olhar e ser olhado. Não olha porque não sabe o que pode criar a expectativa do seu olhar e não se deixa ser olhado porque pode ter suas entranhas desvendadas, sem que queira, pelo olhar alheio.
Olhar é jogo, olhar exige cumplicidade. Talvez se excite com alguma revista pornográfica no momento do prazer solitário, mas nesse momento ninguém o vê, nem ele mesmo. Concentra seu foco na sensação e esta certamente não pertence,para ele, ao seu campo do olhar. Olhar o gozo da mulher que toca é impensável . Talvez ocorra, mas por distração e não por desejo ou vontade de olha-la ceder aos seus toques, até porque, é indiferente a ela. Não a toca porque deseja, mas pelo fato de que necessita tocá-la para ser tocado. Por isso não faz questão de ver o corpo convulsionado do prazer dela. Nem mesmo do seu. Sabe que seu membro cresce, enrubesce, enrijece, mas não o olha assim. Talvez se olha-lo, ele diga-lhe alguma coisa, que não quer ouvir, então melhor não olhar. Olha sempre para fora de si porque tem certeza de tudo que quer e jamais questiona suas teses pré-estabelecidas . Não admite mudança, não admite pressão, reclamação ou quereres dos outros. Sua mulher tem que querer o que ele quer, tem que fazer o que ele determina, tem que ter o prazer igual e no mesmo lugar que ele. Se não for assim, ela se condena a vagar no espaço e no tempo em busca de outra forma, que ele não quer dar.
O que ele quer, ela sabe, e faz para agradá-lo, se disponibiliza para servi-lo, serve sempre a ele , se sujeita ao prazer dele, e abdica do seu que depende dele.
Talvez o maior prazer dele seja, não o prazer que ela lhe dá, mas o prazer que ele sente em negar a ela o que ela quer.

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