domingo, 4 de abril de 2010

Viagem pela poesia em prosa

DEZ LINHAS 1/3/2010
10 linhas, nada mais que 10 linhas.
Minha paixão antivolúvel não se sustenta por mais de 10 linhas.
Ela me secou,
Não tenho lágrimas para chorar sua partida covarde pela porta dos fundos,
pelo fio do telefone celular.
Te escrevo do campo do absurdo literário.
Um Deus que se transforma em monstro, pela onipotência recolhida dos objetos de saber.
Uso suas palavras para te ler e entender, por que?
Você cruelmente se cala.
Sem sentido, se oprime para não sentir, nem pena.
Recusa-se entender a insistência.
Foge para não ver a dor que provoca.
Se clausura para não ter desilusão.
E se perde, porque não pode se achar.
Desconhce a dor, o amor, a compaixão.
Não permite o amor, nem por você mesmo.
Narciso sem riacho, homem sem espelho.
Sem tempo para permitir vida fora do papel.
Seu universo é verbo-escrito-atemporal, sem expectativas.
Para te ler, não posso te escutar, tenho que te inventar,
objeto frágil de mente corrompida pela perversão do não.

IMAGEM
Talvez por muito tempo sua imagem persista em me atormentar.
Ainda não joguei fora sua foto, não tive coragem.
Ela habita o espaço virtual de meu telefone celular, nada mais.
Eu ligo a imagem achando que ela é você, que nunca existiu de verdade para mim.
Invento a história que eu não queria que fosse.
Escrevo a história que eu queria que fosse.
Não importa, na vida é tudo mesmo invenção.
A invenção de que você exitiu,mas não era de carne e sangue.
Era feito de gelo, que não derretia.
Era gelado, não de gelo que com a boca quente desliza em forma de água,
mas gelado de lâmina, que além de fria corta.
Corta sonhos, corta desejos e ilusões.
A máquina perfeita para desafeto, dessabor, despaixão,destudo.



DESCONEXO
Meu desconexo sentido não monta algo linear, nem inteiro.
Escrevo em prosa versejante, poema em prosa, livro de palavra.
Descubro a imagem do nada que me tortura de saudade.
O branco da pele, gosto do tato, a frieza comedida, medrosa, inderme.
Estranho- indivíduo que não se permite conhecer.
Estranheza- sensação que se tem quando o estranho se apresenta para você.
Estrangeiro- aquele que não quer fazer parte do seu dia-a -dia.
Estrabico- o que vê você pelo lado que não queria.



CAVALO DOIDO

Pensamentos são seres indomáveis , quem diz que doma esse cavalo doido que habita dentro de nós certamente é mais doido do que o próprio cavalo doido.
Ser indócil, irreverente, que assola o ânimo e perturba a mente já alvoroçada na noite, no dia, na manhã,na tarde.
Andava eu a noite pelas curvas do alto, o visual era o vazio, as curvas se multiplicavam e sem carros ficavam ainda mais curvas. O asfalto misturava-se a bruma que a chuva deixava. Não era tarde, mas a sensação deixada era de completo isolamento do mundo. Estranhamente, entrei naquele torpor que a floresta causava. Sentimentos de não pertencimento, não conexão, desconexão, treva sem luz, com luz, derradeiro cheiro de enxofre. Caminhos que não levam a paz.
Uma imagem de floresta me corrompe, uma casa na floresta, um ser florestal que não gosta do canto dos pássaros,nem dos insetos, que se julga uma máquina, que não se importa em não ser amado.
Que ser cruel é esse? Um estrangeiro em nosso mundo tão passageiro. Ele não quer estar, não quer ficar , só quer ir, e indo foi quando quis.



COMPREENSÃO- 22-02-2010
Por mim não pararia mais de tentar converter em loucas palavras as imagens do que me acompanha. Desterro, exílio, ostracismo, asilo,abandonar-se, livrar-se, essas palavras não me pertencem, são dele, do Estrangeiro.


ESTRANGEIRO

Acho que o resto da vida o Estrangeiro será o meu personagem. Ele não sabe ainda disso, e abominará a minha escolha. Mas eu não tenho culpa, não somos nós que escolhemos os personagens , eles nos escolhem, eu não tenho qualquer autoridade sobre ele, eu bem queria que ele morresse,para me livrar de suas possibiilidades de pensamento, mas eu não mando nisso, ninguém manda, nem mesmo ele controla sua própria existencia tumultuada.
Eu apenas , o que faço é refletir como um espelho bisotado, as imagens distorcidas por minha retina já fatigada de incompreeensões.


FORMA E GÊNERO

Eu não faço poesia, porque não sei fazer. Faço prosa, invento um gênero.Misturo carta com diário e imagem com desejo e fica tudo meio banhado numa tijela com leite condensado ralo, aquilo tudo fica alí boiando sem muito sentido ou razão. Eu não gosto da razão, porque ela me faz ver o que eu não quero, ela me doi onde eu só quero o prazer, ela não alivia quando eu quero colo.
Eu devia aprender a fazer poesia, e de uma vez por todas me livrar da razão e dos sentidos obsoletos que tentam dar à vida, e que certas pessoas se impõem quando estão diante de outras.



SURREALISMO

Talvez eu agora me abrigue nos braços do surreal. Ele me permite a escrita automática, o nexo bidimensional, a história por inventar, o fato inexistente, o amor sem afeto, o desejo incontido, a poesia dislexa, a cor do sangue, a água em gás, o medo do futuro, a ogeriza do passado, o ar sem perfume,o suor doce, o beijo sem língua, a chupada sem saliva, seca, morna e ardente, o último tango que leva a morte e traz a vida.



PESSOANDO

Não queria que esse personagem ficasse abstratamente rondando- me. Eu não posso mais ficar a dispor dele para desvendá-lo. Não cabe mais a mim esse papel, ele mesmo já disse. Jogue tudo fora, tudo que foi escrito, dito, vivido e principalmente imaginado.
O imaginado no fundo é o pior de todos. Aquilo que foi dito, escrito ,vivido, pelo menos tem uma existência real, dá para interpretar, falar com outras pessoas, tentar ver o que alguém, além de você, diz . Mas o imaginado, não tem possibilidades concretas, ele vive só no campo fecundo da invenção, ele possibilita o tudo e representa o nada. É a coisa paradoxal que já existiu. Parece mesmo aquela história da pessoa que teme a expectativa do outro, que tem medo da expectativa do outro sobre ele . Quando na verdade o que existe é a expectativa dele mesmo. O outro não está nem aí.
Mas o que acontece é que o outro muitas vezes brinca de fingir, e finge tão bem, que chega a acreditar no seu próprio fingimento. Quase pessoano, porém mais dolorido, quando a realidade se impõe e a falta se faz presente.
Poeta, fingidor, professor, fungidor, homem, fungidor, mulher, fingidor, amor finge-dor, dor de verdade, falta de verdade, ilusão de verdade. Vida- movimento de quem está esperando que algo aconteça antes de morrer.

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A conversa

Depois de uma simples conversa de prática religiosa pelo Msn, pois não se tem coragem de faze-lo em viva voz, o personagem solta uma pérol...