terça-feira, 31 de julho de 2012
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Avulsos
Desespero
Quando
ela ligou pela última vez, tudo que eu queria era que o tempo corresse,
a ligação caísse, ou o mundo acabasse para eu não ter que falar mais
uma vez que não a queria.
Sempre fui assim, gostava de alimentar a ilusão das mulheres que saiam comigo, causar-lhes uma frustração e ficar nelas marcado como uma tatuagem que não sai facilmente, pois subcutânea minha tinta só sairia com cirurgia.
Vivi 20 anos com a mãe dos meus filhos, vivi simplesmente, maritalmente, não tínhamos o molde convencional, pelo menos diante de nós, já que diante da família conservadora não éramos tão diferentes. Tínhamos relações extra-conjugais, mas não muitas, o número suficiente para nos sentirmos vivos dentro do casamento e para criarmos nossos filhos.
Quando decidi me separar, eu já apresentava as características que agora tenho, queria me tornar recluso como o escritor, e viver para mim mesmo, de preferência sem interferência de ninguém. Eu, meus livros, minha pesquisa. Não achava que isso era algo de mais, nem de menos, apenas não queria de novo me sentir preso a uma situação e a alguém, já me bastavam os filhos.
Perto dos meus 50 anos, achava que já tinha vivido quase tudo, restava a mim poucos anos para terminar algumas coisas que queria deixar, meu livro e alguns outros escritos.
Desenvolvi por esse tempo um comportamento estranho. Sozinho em meu apartamento minhas pernas pareciam não mais querer andar, com uma contusão já curada, que insistia em ser problema. Era então fevereiro, final de verão quando eu não saía de casa, só lendo, escrevendo, quando ela reapareceu.
O peso dos 50 me assolavam, embora os médicos não registrassem qualquer patologia física. Já nos conhecíamos. Há 12 anos eu era um jovem professor num lugar que não era o meu, com uma língua que não era a minha, quando fui convencido, através de um conto seu, que tudo poderia ser azul, me encantei com seu jeito e me tornei seu amigo,ela tinha uma idade que nunca se modificou, parecia ter sempre, vinte e poucos anos. Eu sabia da sua inocência infantil, da sua forma expansiva e alegre de lidar com a vida, e não me importei com o que eu poderia representar para ela.
Fomos amigos no período de um curso e depois nossos encontros foram ao acaso. Quando me separei procurei por ela e pedi o que era impossível, tudo, sem afeto. Ela sumiu. Ficamos anos, talvez meses sem nos ver, mas ela escrevia querendo saber como eu estava. Eu sempre respondia e a convidava, ela às vezes vinha, às vezes não.
Sempre fui assim, gostava de alimentar a ilusão das mulheres que saiam comigo, causar-lhes uma frustração e ficar nelas marcado como uma tatuagem que não sai facilmente, pois subcutânea minha tinta só sairia com cirurgia.
Vivi 20 anos com a mãe dos meus filhos, vivi simplesmente, maritalmente, não tínhamos o molde convencional, pelo menos diante de nós, já que diante da família conservadora não éramos tão diferentes. Tínhamos relações extra-conjugais, mas não muitas, o número suficiente para nos sentirmos vivos dentro do casamento e para criarmos nossos filhos.
Quando decidi me separar, eu já apresentava as características que agora tenho, queria me tornar recluso como o escritor, e viver para mim mesmo, de preferência sem interferência de ninguém. Eu, meus livros, minha pesquisa. Não achava que isso era algo de mais, nem de menos, apenas não queria de novo me sentir preso a uma situação e a alguém, já me bastavam os filhos.
Perto dos meus 50 anos, achava que já tinha vivido quase tudo, restava a mim poucos anos para terminar algumas coisas que queria deixar, meu livro e alguns outros escritos.
Desenvolvi por esse tempo um comportamento estranho. Sozinho em meu apartamento minhas pernas pareciam não mais querer andar, com uma contusão já curada, que insistia em ser problema. Era então fevereiro, final de verão quando eu não saía de casa, só lendo, escrevendo, quando ela reapareceu.
O peso dos 50 me assolavam, embora os médicos não registrassem qualquer patologia física. Já nos conhecíamos. Há 12 anos eu era um jovem professor num lugar que não era o meu, com uma língua que não era a minha, quando fui convencido, através de um conto seu, que tudo poderia ser azul, me encantei com seu jeito e me tornei seu amigo,ela tinha uma idade que nunca se modificou, parecia ter sempre, vinte e poucos anos. Eu sabia da sua inocência infantil, da sua forma expansiva e alegre de lidar com a vida, e não me importei com o que eu poderia representar para ela.
Fomos amigos no período de um curso e depois nossos encontros foram ao acaso. Quando me separei procurei por ela e pedi o que era impossível, tudo, sem afeto. Ela sumiu. Ficamos anos, talvez meses sem nos ver, mas ela escrevia querendo saber como eu estava. Eu sempre respondia e a convidava, ela às vezes vinha, às vezes não.
O tempo passou e nunca nos encontrávamos mais de um dia, ela
sempre que vinha sumia, e eu não ligava, esperava ela ligar. Nunca quis
entende-la pois julgava já saber o que ela pensava.Certas horas me
irritava e me deixava acuado, mas compensava o prazer que me dava.Quando
ela não vinha, eu tinha namoradas dizia a ela.
Então um dia ela
reapareceu.Veio e ficou. Manda e-mail indecente e sugestivo, eu
correspondo, a recebo por meses, ela entra em minha vida, é meu melhor
dia da semana.
Eu começo a andar, minhas pernas não doem, minhas aulas fascinam os alunos, faço planos para mudar de casa, vejo a vida, o movimento ao meu redor, volto a praticar esportes, minha performance na cama me surpreende. Mas não saio com ela, ela vem a mim, e a prendo em minha casa, não a divido com ninguém, eu a sufoco, não com beijos, mas com teorias que a deixam tonta, e ela me ama, me come, me massageia o ego e o corpo.
Quando ela sai está exausta, pesada, confusa e eu leve, satisfeito, em forma para um homem com a minha idade. Me vicio, a vicio.
Até que eu, além de sufocá-la, passo a restringir seu tempo comigo, restrinjo sua forma de amor, sua fala, seus gestos, sua alegria, reprimo-a no que posso. Ela fica confusa, some por dias, reaparece, diz que não suporta. Explode e diz a mim o que eu fingia não ver e não ouvia, sou mais para ela do que eu achava que era.
Não aguento o que ouço, decido que não mais . Ela me procura, me liga, me passa e-mail. Não volto atrás, digo que tudo termina. Ela contesta, mas eu não a aceito.
Já tenho 54 anos, não vou mudar, sou o que sou, um estrangeiro, talvez eu morra amanhã, depois de aprontar meu livro, talvez eu volte para meu país, talvez eu fique doente, talvez eu seja doente, ela não me interessa, já tenho mais de cinquenta, o tempo para mim passou. E agora, agora é esperar.
Eu começo a andar, minhas pernas não doem, minhas aulas fascinam os alunos, faço planos para mudar de casa, vejo a vida, o movimento ao meu redor, volto a praticar esportes, minha performance na cama me surpreende. Mas não saio com ela, ela vem a mim, e a prendo em minha casa, não a divido com ninguém, eu a sufoco, não com beijos, mas com teorias que a deixam tonta, e ela me ama, me come, me massageia o ego e o corpo.
Quando ela sai está exausta, pesada, confusa e eu leve, satisfeito, em forma para um homem com a minha idade. Me vicio, a vicio.
Até que eu, além de sufocá-la, passo a restringir seu tempo comigo, restrinjo sua forma de amor, sua fala, seus gestos, sua alegria, reprimo-a no que posso. Ela fica confusa, some por dias, reaparece, diz que não suporta. Explode e diz a mim o que eu fingia não ver e não ouvia, sou mais para ela do que eu achava que era.
Não aguento o que ouço, decido que não mais . Ela me procura, me liga, me passa e-mail. Não volto atrás, digo que tudo termina. Ela contesta, mas eu não a aceito.
Já tenho 54 anos, não vou mudar, sou o que sou, um estrangeiro, talvez eu morra amanhã, depois de aprontar meu livro, talvez eu volte para meu país, talvez eu fique doente, talvez eu seja doente, ela não me interessa, já tenho mais de cinquenta, o tempo para mim passou. E agora, agora é esperar.
Caixa de e-mail
Fazia tempo que todos os dias olhava na caixa de e-mail as mensagens que tinha recebido. Todos os dias acossava-o o mesmo receio de encontrar de novo um e-mail indesejado.
Antes só se comunicava com ela por e-mail, gostava de receber as cartas e bilhetes virtuais indecentes, que sugeriam uma boa rodada de prazer. Mas com o tempo, depois que ela disse que era apaixonada por ele, a vontade passou, como numa mágica qualquer. Conquistara finalmente o objeto de prazer, então ele não mais serviria para tirar-lhe da seca sexual.
Depois do dia da revelação, pediu a ela não mais o procurasse. Ela desobedeceu, como era de esperar. Ligou várias vezes, ele atendia, incomodamente atendia. Até que um dia parou de atender, deixou de responder aos e-mails, lia o que ela mandava e mais nada.
Uma vez ela mandou um e-mail que parecia tirar-lhe do sério. Não dizia nada, nem nada dizia, não falava indecências, nem convidava para sair, era uma crônica diária, crônica de saudade, respeitosa, que pedia um sinal de vida, apenas.
Não aguentou. O peso de algo que não sabia o que era, fez responder de forma arrogante e taxativa. -Porta fechada, Deixe-me tranquilo. Tenho namorada, firme.
Aquilo seria o suficiente para ela desistir. Não sem antes faze-lo sentir-se ridículo pelo que tinha escrito, chamando-lhe desequilibrado e não civilizado.
Um ato infantil. Fora amedrontado por um bilhete virtual, que poderia ser deletado a qualquer momento, sem leitura que fosse. Ridículo, pela falta de sociabilidade, por se esconder por trás de um suposto namoro sério, por trás de um medo absurdo que o remetia de novo a ela.
Fechou os olhos depois que leu, mas uma vez não sabia como lidar com ela. Fechou a caixa de mensagem. Ela não mais escreveu. Toda dia ele olhava sua caixa, achando que um dia ela pode mudar de ideia. Vive ansioso toda vez que vai ao seu provedor.
terça-feira, 1 de maio de 2012
“Coisas de mulher”
1/05/2012
Comecei um novo blog, “Coisas de mulher”. Talvez eu coloque
algo que fique mais próximo das pessoas.
O dia-a-dia, as imagens, as coisas que são e não são do nosso universo feminino conturbado.
Algo assim leve, as coisas de mulherzinha. Como já
disse faz tempo.
Todas queremos ser
mulherzinhas, indistintamente.
Fazer o que dá na telha,
comprar o que é mais fútil. Ter enorme preocupação com a unha e com a
depilação. Pensar o dia inteiro no homem da vez, quando ele está mesmo na vez.
Muitos dizem que não é isso coisa de mulher interessante, é de mulher fútil que
não tem o que fazer. Tudo uma grande mentira, para minar a coisa mínima de que
é feita a vida.
As grandes preocupações só
sobrevivem se as mínimas estiverem no lugar. Sem essas pequenas as grandes não
existem. Por isso essa série vai falar disso, das pequenas coisitas básicas do
nosso dia-a-dia, que fazem também literariamente a vida ser o que é.
http://florbela-coisasdemulher.blogspot.com.br/
http://florbela-coisasdemulher.blogspot.com.br/
quarta-feira, 25 de abril de 2012
domingo, 25 de março de 2012
domingo, 11 de março de 2012
Parapalavras
Palavras imagens
11 \03
Vergonhoso para quem se pretende escritora ter apenas um testículo escrito em 3 meses. Onde foram parar as musas? OH musas! Encontrai-me.
Não sou Homero, nem Dante ,nem Virgílio, mas por favor da uma luzinha.
O tempo passa e nada acontece. Já disseram uma vez que o trabalho emburrece, eu estou convicta disso.
Ócio, onde estás que não me responde?
Criativo, que ócio é esse? Onde ele se escondeu. Certamente não está aqui em cima do morro. Aqui a beleza estonteante da cidade não dá foco para mais nada. Fico na plasmação, esse estado de coisa ineeeeerte. Com muita vida e sem vida ao mesmo tempo. Tudo pode na pós-modernidade, todos os contrastes. Não temos mais o isto ou aquilo da Cecília. Temos tudo, mil possibilidades de escolha, e aí é que mora o perigo. Como escolher?
Quem é o melhor homem? A melhor comida? A melhor leitura, a melhor F... Quem? quem ? Jamais teremos a resposta pois sempre temos possibilidade de ter uma coisa melhor no dia seguinte.
Tudo líquido, tão fluído, leve, e todo mundo quer sentir leve. Você é leve fulano, cicrano você é pesado, pesante, um chato de galocha que vive na cola.
Todo mundo queria, ineeertemente,não! Não dá. Passou da hora. Sim, tinha hora, Só você não viu...
Eu vi, deixei correr, deixei vê, fiquei só observando, sabia o que faria. Tinha certeza que seria assim, meio assim, dessa forma. Mas qual forma?
Aí me misturei. Hibridizada!!! Hibridação... existe.?
O que existe?De novo nada, ou tudo?
Sonhei, eu sonhei de novo!!!
Tem fantasma que vai e volta. Fica um tempo e some.
Da última vez deu para vir só em sonho. Coisa assim esquisita como um beijo de sopro. Troca de ectoplasma. Adoro isso. Acho que foi o que ficou faltando. Buá...
Imagens palavras
05\02\2012
Todas as imagens, casas, rios, árvores, sombras, pessoas. As luzes, as cores, os sons prendem minha atenção e não me deixam sair. Preciso ir, preciso ver, ler, ouvir tudo. Ouvir o que vem da mente, a vontade de transformar tudo em palavras.
Palavras,palavras, eis a razão, qualquer coisa começa e termina em palavra.
A palavra que origina, a que termina. A que explica e conflita. A que dá entendimento e a que confunde.
Que palavras usarei? Olha Alice, tudo isso é palavra. Um dia você vai aprender a ler e a palavra será um tesouro. A menina olha como quem ainda não entende o que estou dizendo. Pega o papel tentando ver a imagem, mas a imagem que tem é a que tem que imaginar.
Como imaginar?
Sinto falta de minha imaginação. Será que ela só aparece quando não sei, quando acho que estou sofrendo, quando preciso tirar de mim aquilo que me atormenta. Não sei, queria que não fosse.
Queria que os personagens saíssem de mim, ou contagiados por mim, nascessem para uma outra existência.
Acho que a cada dia sou menos escritora, quando a escrita depende se um sentimento que não compreendo. Ou ao contrário, estou mais escritora pois agora sim, tenho o afastamento necessário para a escrita.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
série- Minha cidade
Inicio aqui uma série de pequenos textos acerca de minha cidade e minha infância, surgirão personagem de minha imaginação ,mas também pessoas. Os textos irão se escrevendo sozinhos ao gosto da ocasião , da memória e suas associações.
Depois da chuva
Achava sempre, que depois de uma tempestade chegaria à praia algo diferente. Uma pérola, fantasia de criança, um tesouro, um bicho morto, uma garrafa e sua mensagem. Cresci sem pérola, sem bicho morto, sem garrafa e sem mensagem, mas sempre ia buscá-los depois da tempestade. Certa vez, era bem pequena, encontrei uma sabiá. Levamos para casa, cuidamos dela, ficou boa e voou, não sei para onde.
Outra vez a tempestade trouxe um corpo, já estava duro. Eu nunca tinha visto um assim , parecia um lobo do mar, uma calça preta já pelo meio da canela, uma blusa listrada, estava todo duro. Não me lembro mais se os olhos estavam ali, creio que não, os siris já tinham comido. Não sei também ao certo se identificaram o homem, certamente que não. Do lado dele alguém acendeu uma vela. Hoje me lembro do conto “ Uma vela para Dario”. Não foi essa a situação, mas de qualquer maneira era um morto. Não sonhei com aquilo, e não sei como fui parar ali para vê-lo. Mas sei que devo ter fugido, porque sempre que acontecia algo não rua e que de casa ficávamos sabendo eu achava um jeito de ir ver e ía.
Esse senhor morto, lobo do mar, devia ser alguém que caiu no mar, ou foi jogado, já morto, esperavam a polícia para saber, para investigar. Mas minha mente infantil só tinha uma curiosidade, por que ele estava assim tão duro. Não tive medo, hoje só lembrança.
O trem
Antigamente havia um trem. Não um, vários. Tinha um que chamava Macaquinho, era marrom e todo de madeira, assim meus olhos infantis o viam. O outro era chamado Litorina, todo prateado. Não me lembro de ter andado na Litorina. Mas no Macaquinho eu lembro de um dia em que minha tia nos levou a praia de Junqueira, fomos e voltamos. Eu, meu irmão, minha prima e ela,minha tia que não existe mais.
A história do trem em minha cidade foi muito triste. O trem vinha do Rio de Janeiro e trazia os passageiros. Naquela época não havia ainda a rio\santos rodovia federal , a Br 101 sul. Dessa forma, acho que desde o início do século XX, não sei em que década, o trem chegou à Mangaratiba. Terminava sua linha ali em frente ao porto, pier. Ali havia uma caixa d’água de pedra onde a máquina se refrescava, era o fim dos trilhos. Antes de chegar ao fim da linha havia a estação, num plano mais alto que a rua, com uma casinha na ponta de cor azul claro. Essa é a que me lembro.
Minha casa ficava a um quarteirão da linha férrea e eu criança gostava de colocar pedras sobre os trilhos e ver depois a pedra virar pó. Fazia isso sempre que podia, sem imaginar o perigo que corria e a que submetia o trem.
Perto da estação ficava nossa loja. Eu era pequena na loja de meus pais,um armarinho, que ficava de frente para a estação, ali quando chegava o trem eu via as pessoas passando, de repente a estação enchia de gente e rapidamente esvaziava, eu prestava atenção a todo aquele movimento. Não me recordo quantos anos tinha, mas sei que logo depois o trem deixou de passar, diziam que por causa da MBR, ou seja, interesses maiores que o do povo pairavam naquela ocasião. Devia ser a década de 70, 75,76. Época em que a opinião do povo não valia nada, faziam o que queriam com ela e todos permaneciam calados.
Aliás, sempre me pareceu assim, alguém chegava destruía tudo e ninguém falava nada. Não entendo muito bem esse silêncio e omissão da minha cidade. Às vezes tem uma voz esquisita, que anonimamente se coloca. Mas chega a ser ridículo, pois uma voz anônima não pode representar o povo, parece o livro do Gabriel Garcia Marques, “Veneno da madrugada”.
Mas essa falta de vontade política, essa omissão não é só da minha cidade, hoje isso ocorre no povo em geral, dos mais velhos aos mais novos.
E o trem passava, fazia aquele barulhão, ia do Rio a Mangaratiba cortando o litoral. Saia da central com os passageiros, passava no subúrbio e entrava na Costa Verde por Santa Cruz. Hoje o trem faz o mesmo caminho, mas só leva minério trazido desde Minas Gerais. Vem cortando por Ouro Preto, Mariana,até chegar à Guaíba. Dizem que esse minério tem tempo para acabar e quando isso acontecer... Aí eles podiam aproveitar a rede até Santo Antonio e começar a trazer os passageiros de volta.
Mas isso é sonho. Se as coisas fossem sérias, o trem seria o meio de transporte mais viável, menos poluente, que transporta mais gente e coisas. Mas tem outros interesses, sempre tem.
De branca se fez azul
Domingo era dia de missa. Ainda é. Dia de descanso. O sétimo dia, quando Deus depois de fazer o mundo aproveitou para ouvir um pouco de música e as lamentações de quem só vem pedir em seu dia de folga.
A igreja era pequena, mas para meus olhos de criança era enorme. Isso se evidenciava pela distância da porta de entrada até o altar, pela altura da cúpula e também pelo tamanho dos bancos.
A missa das crianças era às 8 da manhã. Meus pais dormiam e eu acordava cedo, botava minha roupa e saia. Tudo era deserto e só na praça encontrava com os amigos de domingo, que como eu faziam o catecismo.
Nossa missa era a mais animada, cantávamos com o Frei Afonso, que se alegrava com a criançada. Embora lêssemos toda as orações, o momento mais esperado era o das músicas e além das da liturgia tínhamos muitas outras.Bom dia meu amigo, o rei Davi, músicas que repetíamos incansavelmente com alegria.
Mas esse era o final, antes de entrarmos na igreja dona Queta e dona Cordélia no salão da igreja faziam as nossas pregações. Distribuíam as leituras, ensaiavam os cantos, definiam quem entraria levando os objetos da missa. O cálice, o vinho, o paninho, a água, e a vela. Na verdade era tudo dividido, porque eram tantas crianças querendo levar os objetos que cada coisinha tinha que ser separada até chegar ao altar.
Frei Afonso para ficar mais perto das crianças colocava uma mesinha como altar no meio da segunda nave. Isso possibilitava que toda a nave ficasse cheia de crianças, com sua mesa no meio. Nas escadas que davam para o altar nós sentávamos de frente para o público, sentávamos também nos dois bancos laterais. Tinha dia que tinha tanta criança que acabávamos ocupando também o primeiro banco da segunda nave, onde ficava o povo. Todavia ali, não era para mim, o melhor lugar. Quando sentava embaixo, junto ao povo, não conseguia prestar atenção em nada da missa. A grandeza da igreja para o meu tamanho fazia com que eu ficasse toda a missa prestando atenção nos detalhes da igreja, nos santos, nos ornamentos, sem contar a altura dos bancos que deixavam minha pernas balançando e conforme a música eu e outras crianças íamos acompanhando com bailar de pernas no ar tudo que tocava e cantávamos, a ponto de chamarem nossa atenção pela competição de qual perna ía mais alto durante a música.
Também era alvo de debate entre nós crianças, o que haveria naquela portinha sobre o altar principal. Sabíamos que era a hóstia guardada ali. Mas aquela portinha fofinha, parecendo acolchoada, com chave guardada pelo padre instigava nossa imaginação; primeiro por ser guardada e fechada, segundo porque não tínhamos altura para ver o que era. Achávamos que era uma geladeirinha pequena, um lugar com jóias, qualquer coisa, que ficávamos ali falando e imaginando.
Na entrada da nave do altar, no alto, quase no teto, tem um ornamento enorme branco e ouro que fica virado para baixo.É como um brasão grande seguro pela lateral no teto. Eu sentava e ficava olhando para ele e imaginando se ele caísse, também imaginava formas que teriam usado para coloca-lo naquela posição.Traçava vários mecanismos e não imaginava uma escada tão alta e nunca tinha visto um andaime na vida.
Antes de fazer a comunhão sonhávamos com aquele pãozinho...
Assinar:
Postagens (Atom)
parte de mim
Falei que estava em processo para minhas amigas. Eu tenho muitas e quase todas sabem dos meus sofrimentos , das angústias etc. Sabem das ...
-
1/05/2012 Comecei um novo blog, “Coisas de mulher” . Talvez eu coloque algo que fique mais próximo das pessoas. O dia-a-dia, as imag...
-
s vezes br Às vezes brotam milhões de ideias que evaporam como um gás volátil em uma noite de sono. Talvez na hora em que elas v...
-
30\6\2011 Paris é uma festa, diz Ernest Hemingway. Festa para quem? Para qualquer mortal que passe pela cidade luz, uma cidade que desde o ...